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Apetece citar, de forma aldrabada, Cormac McCarthy e, através dele, os irmãos Coen. There IS Country For Old Men. E o velho é Jeff Bridges. Ele mesmo: o Big Lebowski.
Estamos no interior do Texas. Acompanhamos o golpe de dois irmãos para recuperar, em cima da linha da meta, a humilde quinta da família, hipotecada pelo banco. Se não o fizerem dentro de dias… o banco fica definitivamente com ela e há sinais de lá haver petróleo. Quanto ao golpe, pode-se resumir num provérbio popular: “Ladrão que rouba ladrão…”.
Hell or High Water é uma espécie de road movie do crime, enquanto acompanhamos os assaltos e a perseguição pachorrenta desencadeada por dois rangers do Texas: um descendente de colonos e um descendente de índios. São, aliás, deliciosos os insultos amigáveis que Marcus faz a Alberto, um acumulado de estereótipos que cai que nem uma luva na América de Trump.
O realizador David Mackenzie explora as personagens com imenso talento. Por um lado, a diferença entre os dois irmãos, um profissional do crime abrutalhado, cruel e meio-burro e um amador mais consciente, contemplativo e estratega. Aliás, são óptimos papeis de Ben Foster e Chris Pine, que já tinha tido este ano um desempenho interessante em Os Últimos na Terra. Por outro, na perspicácia e na adrenalina peculiar de Jeff Bridges, um polícia numa espécie de pré-reforma.
O fantasma dos Coen está presente não só na mensagem de Cormac McCarthy, mas também na refinada ironia. Veja-se o non-sense da cena do restaurante onde não pára ninguém. Ou todo o pós-assalto decisivo, incluindo o delirante “eu contra o Mundo”, mostrando que, em 2016, continuam a não ser precisos grandes efeitos especiais para se fazer uma extraordinária cena de perseguição. E tudo isto acompanhado pela descoberta qb de música country e blues bem interessante e a belíssima banda-sonora original (mais uma) de Nick Cave e Warren Ellis.
Hell Or High Water pode ser sobre o atraso de vida que é a América profunda. Ou sobre as perversões da alta (e baixa) finança. Ou, indo bem longe e de uma forma profética, sobre os choques culturais e de gerações que levaram à eleição de Trump. Ou então… não é nada disto e é “apenas”, no asfalto texano e com algumas raízes no western clássico, um dos mais deliciosos e viciantes filmes americanos de acção dos últimos anos.