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O realizador da Pixar Pete Docter queria fazer um filme inovador que de alguma forma traduzisse a sua experiência e reflexão acerca do crescimento da sua filha e da forma como a sua personalidade se transformou na transição da infância para a adolescência. Nas suas investigações sobre o tema, deparou-se com os trabalhos do psicólogo americano Paul Ekman (pioneiro no estudo das emoções humanas), que postulam a existência de um conjunto específico de emoções com estreita relação com os sistemas cognitivos, a expressão facial e a actividade do sistema nervoso. As emoções básicas, tal como a psicologia as define, são reacções inconscientes e automáticas que funcionam como catalisadores entre o meio e a conduta, decorrendo da necessidade de resposta ao ambiente com vista à sobrevivência e ao bem-estar individual. Podem ser positivas ou negativas, mas todas têm um papel adaptativo: de estabelecimento de ligações (alegria), de protecção contra o perigo (o medo), de reorientação interna (a tristeza), de mobilização para a acção (a raiva) ou de evitar o dano (repulsa). Cada emoção tem uma componente afectiva (estado afectivo ao qual apenas o indivíduo tem acesso), uma componente expressiva (que se traduz numa expressão facial automática) e uma componente comportamental (resposta desencadeada), bem como um papel basilar na elaboração da personalidade e da memória.
Com consultoria de Ekman e realização de Pete Docter e Ronaldo Del Carmen, assim nasceu um filme cujo mérito não é o seu brilhantismo técnico (largamente comprovado em anteriores trabalhos da Pixar, sendo que este até nem será o mais espectacular), mas o facto de conseguir traduzir uma realidade intangível e um conjunto de conceitos abstractos – os processos mentais – numa metalinguagem apelativa e acessível às crianças. A história acompanha a vida de Riley, uma menina de onze anos, mas a verdadeira trama passa-se dentro da sua cabeça. Aí, num centro de controlo neurológico, cinco emoções básicas avaliam as circunstâncias, decidem os comportamentos adequados e trabalham juntas para conduzir a vida de Riley da melhor forma.
Cada emoção possui uma personalidade distinta e uma cor diferente. Ao fim do dia de trabalho, trabalham na formação das memórias, que armazenam em pequenas esferas cuja cor depende da emoção que as domina. As memórias mais importantes (ou nucleares) alimentam cinco ilhas, que reflectem os aspectos dominantes da personalidade de Riley: A ilha da Família, da Amizade, do Hóquei, da Honestidade e da Palhaçada. É um trabalho de equipa, mas cada emoção tem uma função específica: A Alegria certifica-se de que Riley está feliz, o Medo mantém-na segura, a Raiva preserva o seu sentido de justiça, a Repulsa impede-a de ser prejudicada (ou de comer brócolos…). Mas Tristeza não sabe qual o seu papel e sente-se desastrada e diferente dos outros. Quando a família de Riley se muda para São Francisco, Riley sofre com a falta dos amigos e da sua rotina. Desiludida com a nova casa e escola, a sua emoção dominante – a Alegria – começa a sentir dificuldades. A trama acaba por se fixar na dicotomia entre a Alegria e a Tristeza, duas emoções com funções aparentemente antagónicas que acabam por ter unir esforços para ajudar Riley a ultrapassar o problema. E a aventura começa.
A narrativa socorre-se de um espaço cénico imaginado que, para uma criança, configurará um admirável mundo novo – colorido, frenético e povoado de personagens caricatas e divertidas. Mas há muito no universo de Inside Out que apelará ao público adulto. Porque nos lembramos de alguns dos nossos sonhos de infância? De onde vêm os nossos medos? Há quanto tempo não pensávamos naquele amigo imaginário? O que se passa na cabeça dos nossos filhos? O filme chama sobretudo à atenção para um aspecto particularmente relevante nos tempos modernos: o papel adaptativo da tristeza é frequentemente esquecido, foi substituído pelo pavor dos afectos tristes. Somos intolerantes aos mais pequenos sinais do que, muitas vezes, identificamos erradamente como sintomas do mal do século. Confundimos tristeza com depressão e perdemos a capacidade de perceber para que serve estarmos tristes. Um dos aspectos mais importantes do filme – e de especial interesse para o público adulto – é a forma como resgata a Tristeza do negativismo exclusivo a que parece condenada e reafirma a sua relevância e instrumentalidade enquanto emoção básica (Porquê? Terão mesmo que ver o filme…). Nesse sentido, Inside Out é um filme tão divertido quanto melancólico e reflexivo, que está longe de pertencer apenas ao público infantil. É uma animação pedagógica e madura, um filme para toda a família no pleno sentido da expressão.