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Fazer um filme sobre Steve Jobs, fundador e figura emblemática da Apple, seria sempre uma aposta cinematograficamente difícil. À parte os amores ou incompreensões pelo património Mac e derivados, havia sempre o risco de ser um retrato demasiado glorificado ou excessivamente crítico. No fundo, o risco habitual quando se faz um biopic de uma figura relativamente polémica.
Por outro lado, a escolha para protagonista de um actor de filmes menores, como Ashton Kutcher, adensava as nuvens sobre esta produção. Mas lembremo-nos do belíssimo Man On the Moon (com um desemprenho brutal de Jim Carrey) e é sempre possível sermos surpreendidos nessa matéria. Pois bem, não é por aí que este Jobs é francamente mau.
Para além da glória e da crítica, temos aqui traços muito mais vastos. Há o Steve Jobs insensível em termos amorosos e familares, o Steve Jobs com uma perspicácia e um sentido de negócio tremendo, o Steve Jobs com um humor tenebroso, o Steve Jobs com problemas no trabalho de equipa, o Steve Jobs implacável ou intrujão, o Steve Jobs sentimental ou até o Steve Jobs meio frito e aluado sob o efeito de drogas (e como é ridícula aquela cena quase inicial, com um efeito visual e sonoro supostamente arty). Podia ser sinal de uma descrição ampla, capaz de criar a personagem com a devida densidade psicológica, mas não é. É sim uma verdadeira manta de retalhos, na forma de um conjunto de cenas soltas sem grande consistência.
O filme também aborda questões previsíveis, como a subida a pulso da empresa contra todas as expectativas, o divórcio entre a vida profissional e familar ou a selvajaria do mundo dos negócios. Mas fá-lo de uma forma particular cliché, como se torna evidente em inúmeras cenas. A conversa com a namorada sobre a filha, o diálogo com o director de projecto da Macintosh, ou a saída do companheiro de sempre da Apple, são exemplos de momentos que parecem retirados de um vulgar telefilme, ou até mesmo de uma novela, tal a forma como puxam ao sentimento fácil. E a banda-sonora, recheada de Bob Dylan, parece quase sempre metida a martelo
No discurso cinematográfico sobre grandes visionários da informática, lembremo-nos do recente A Rede Social, de David Fincher (sobre Mark Zuckerberg, o criador do Facebook). Não é uma obra-prima e pode até ser dos filmes menos marcantes e significativos do grande realizador americano. Mas é um filme com ritmo, capaz de contar uma boa história de forma suficientemente inteligente. Enfim, sinal que o Fincher de serviços mínimos pode ser mais interessante do que muitos projectos recheados de oportunismo comercial. É o caso deste Jobs.