Mesmo antes de chegar aos cinemas, muito foi dito sobre Joker, filme realizado por Todd Phillips e com o actor Joaquin Phoenix no papel principal. Após a vitória no Festival Internacional de Cinema de Veneza o filme foi catapultado para um nível de exposição mediática ainda maior. Obviamente que (espelho dos dias de hoje) toda essa euforia e entusiasmo acabaria por ser contaminada por algo negativo – neste caso a polêmica surgiu pois muitos diziam que Joker é um hino à violência e que podia ter um efeito perverso em muitas mentes.

Esta conclusão é reflexo de uma contra-cultura que peca pelo seu conservadorismo demagógico e pensamento literal. Joker não é nada disso, muito pelo contrário – estamos perante um desafiante exercício de reflexão.

O filme convida o espectador a estar mais atento aquilo que o rodeia tocando em temas fracturantes como os problemas de saúde mental que são cada vez mais comuns entre cidadãos de meios socioeconómicos frágeis e que não recebem qualquer tipo de suporte ou acompanhamento médico especializado. O cocktail é finalizado quando introduzido o tema da violência com armas de fogo, algo tão escrutinado entre a sociedade norte-americana.

Joker consegue passar a mensagem, mostrando que depende de todos nós impedir o surgimento deste tipo de vilões que estão mais próximos da realidade do que da ficção. 

Todd Phillips entrega assim um filme que virá certamente a ser considerado como um clássico dos tempos modernos. Joker é irrepreensível, uma obra delicadamente trabalhada que nos oferece aquela que é provavelmente a melhor interpretação da carreira de Joaquin Phoenix. O filme que se centra num personagem de banda-desenhada, nada tem em comum com os blockbusters que chegam às salas de cinema cada vez com maior frequência.

Estamos perante algo avassalador, que nos faz passar por um largo espectro de emoções e que acaba por nos deixar emocionalmente e psicologicamente esgotados. Assim que os créditos aparecem no ecrã, ficamos desamparados, sem chão, mas com uma gargalhada que vai ficar a ecoar nas nossas cabeças durante muito tempo.

– por FQ