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L’Avenir
Título Português: O Que Está Por Vir | Ano: 2016 | Duração: 102m | Género: Drama
País: França, Alemanha | Realizador: Mia Hansen-Løve | Elenco: Isabelle Huppert, André Marcon, Roman Kolinka

Depois de ter sido destacada na anterior edição do IndieLisboa, Mia Hansen-Løve estreia agora L’Avenir na sessão de encerramento da edição de 2016.  É um regresso que acontece depois de ganhar o prémio de melhor realizadora no Festival de Berlim e dá-nos uma visão acerca da redescoberta pessoal, com temas filosóficos e políticos a terem o maior destaque no argumento. O foco é sempre um desenvolvimento intenso das personagens, num filme em que vamos vendo peças de uma estrutura a cair até que não sobre praticamente nada.

Em L’Avenir observamos uma desconstrução exaustiva de uma personagem passando depois, com menos fulgor, à reconstrução menos conseguida e mais prolongada. Nathalie é uma mulher na casa dos 40 anos, professora de filosofia, com um casamento que percebemos estar longe de ser perfeito e uma mãe que procura atenção acima de qualquer outra coisa. Todas estas peças vão sofrer alterações e vão mudar aquilo que a personagem consegue ser. Intercalando com momentos de maior reflexão vamos encontrando pequenos momentos cómicos, muito pela presença da gata Pandora que tem um imenso protagonismo nesta fase.

Como não podia deixar de ser, os diálogos têm uma importância enorme no desenvolvimento das várias personagens, com especial foco na de Nathalie, sempre bem interpretada por Isabelle Huppert. Situações como a que junta Nathalie com a mãe a ver o então presidente francês Nicolas Sarkozy na televisão e a que ocorre na maternidade, onde Chloé, filha de Nathalie, vê a mãe segurar no seu filho têm uma carga emocional muito forte, mesmo que poucas palavras se troquem entre os elementos presentes. Também há um foco nas ideologias que as diferentes personagens, sendo aqui importante um ex-aluno de Nathalie – Fabien – que se torna um veículo para mostrar a evolução e todas as questões que surgem à personagem central. Percebemos que não há certezas à medida que vemos tudo o que a personagem é perder-se à medida que avançamos.

O maior pecado de L’Avenir está em não conseguir voltar a construir a personagem que partiu em pedaços. Na altura em que Nathalie se encontra perdida o tom muda um pouco, assim como o ritmo, apresentando um filme, também ele, perdido em ideias. Os contactos com personagens são menos frequentes, as alterações não têm tanto impacto e no final ficamos sem perceber no que realmente se tornou uma personagem que viemos a acompanhar com bastante interesse desde início. Este rumo altera-se também a partir do momento em que as ideologias e as filosofias passam para um segundo plano e deixamos de ter respostas a perguntas que surgem sucessivamente.

O regresso de Mia Hansen-Løve ao IndieLisboa é de saudar e o filme que apresenta neste encerramento do festival é um ensaio interessante, que foge ao que de mais convencional há no cinema moderno. Peca por não conseguir dar uma conclusão satisfatória a uma boa primeira fase de desconstrução, mas nunca deixa de ser rico a nível de emoções que transmite e de diálogos simples, mas tremendamente eficazes. Acaba com uma indefinição que, talvez, seja também parte do resultado de tudo o que vimos naquela personagem desde o primeiro momento.


sobre o autor

Sandro Cantante

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