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A primeira longa-metragem realizada pelo actor-mais-sexy-do-mundo (The Glam Mag, Julho de 2016) é uma comédia romântica vagamente inspirada na peça Les Caprices de Marianne (escrita por Alfred de Musset em 1833) que revisita ainda La règle de trois (curta-metragem que Louis Garrel dirigiu em 2011). A história parece seguir as pisadas do trabalho de Christophe Honoré (que, com Louis, escreveu o argumento) e de Philippe Garrel (pai de Louis), autores que quase sempre investigam a natureza do sobejamente abordado ménage-à-trois francês – recorde-se, apenas a título de exemplo, o belíssimo Les Chansons d’ Amour (Christophe Honoré) ou Jealousy (Philippe Garrel, 2013), onde Garrel desempenha um dos vértices dos triângulos. Aliás, os filmes de pai e filho, L’Ombre des femmes (de Philippe Garrel) e Les deux amis, que estrearam no último festival de Cannes, narram as histórias de trios atribulados. Les deux amis segue o drama pessoal de Clément (Vincent Macaigne, Herói Independente do IndieLisboa 2016), um tímido actor que se apaixona por Mona (Golshifteh Farahani), uma jovem em liberdade condicional – durante o dia, ela trabalha no café da Gare du Nord e à noite recolhe ao seu cativeiro. Quando Mona tenta afastá-lo na tentativa de prevenir que Clément descubra a sua situação, Clément pede ajuda ao melhor amigo Abel (Garrel), por quem a rapariga acaba por se interessar (e ele por ela). O resto poderia até adivinhar-se – tendo em conta o trabalho dos cineastas que inspiraram o realizador – no entanto, o filme acaba por oferecer um twist curioso…
Acontece que a personagem feminina, embora a mais carismática, depressa é relegada para segundo plano em função do aspecto verdadeiramente interessante na narrativa: a relação, nem sempre perfeita, de dois indivíduos cuja amizade é imatura e difícil mas verdadeira. Os momentos mais emocionantes são protagonizados por Macaigne e Garrel, sendo que o primeiro compõe o romântico incurável (uma personagem frágil e doce, que facilmente suscita grande simpatia) e Garrel interpreta a personagem que de modo recorrente lhe assenta (é até lamentável que esteja demasiado preso a esse registo), o galã negligé-délibéré com laivos de narcisismo que arrasa o coração de quantas (às vezes, quantos) lhe ponham os olhos em cima. Assim, apesar do recurso à fórmula demasiado utilizada do trio romântico, este é um filme sobre o vínculo estranho da amizade entre dois seres muito diferentes, aqui apresentando como uma variação do conceito de amor, eventualmente mais forte e vinculatória.
Em Les deus amis perpassa a jovialidade de um projecto caseiro (Macaigne e Garrel são amigos, Farahani era sua namorada na altura) e sem pretensões exageradas. O seu valor reside precisamente na modéstia do trabalho de direcção e no propósito de contar uma história simples, com bons actores (Macaigne é sempre espantoso e a iraniana Golshifteh Farahani é uma força da natureza), planos rigorosos, fotografia aceitável e uma boa banda-sonora. Em suma, é um filme que certamente não envergonha e, estando longe de ser uma primeira obra de arromba, não deixa de ser promissor. Louis Garrel é um actor de um carisma quase inigualável, mas enquanto realizador necessitará de se distanciar dos códigos cinematográficos das suas influências e de encontrar uma assinatura à altura do seu talento.