//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Quando chegamos a uma sala de cinema para ver Logan há já uma série de dados que temos como certos. Sabemos que este é o último filme de Hugh Jackman a interpretar Wolverine, o último de Patrick Stewart enquanto Charles Xavier e que estamos perante um raro caso de uma classificação de M18 para um filme deste género. Se também tivemos boa vontade suficiente para ver todas as aparições dos X-Men e do Wolverine no cinema sabemos que, um pouco como a personagem de Logan neste filme, esta é uma saga cansada e em fim de vida. O marketing para o filme estava feito e qualquer esforço mínimo para colocar este filme na grelha televisiva de domingo à tarde já a partir de 2018 ia significar lucro, mas o que James Mangold consegue com Logan é muito mais do que apenas mais um filme de super-heróis. Estamos perante um final adulto, negro e digno de um herói que sempre mereceu mais do que teve, mas também perante um filme que é uma afirmação enorme de um estilo diferente do convencional.
A cena inicial funciona como a entrada perfeita para percebermos o que nos vai ser servido a seguir. A classificação que dirige imediatamente o filme a um público adulto podia existir apenas para podermos ver mais sangue, mais violência e uma linguagem menos correcta, mas não se fica por aí e nada parece simplesmente gratuito. Logan, a personagem que aqui aparece despida da imagem de um herói, debate-se com conflitos internos que não estamos habituados a ver retratados nestes filmes com tanta densidade e isso é algo que fica claro em todas as interacções com Xavier, aqui também também num papel mais exigente do que vinha a ser normal. Faz perfeito sentido ter uma liberdade criativa maior a nível do que é possível mostrar quando falamos de uma personagem com as características de Logan e a violência é facilmente justificada pela construção da mesma, que surge tanto como herói e vilão no seu próprio filme.
Só com uma boa dose de coragem é que James Mangold consegue entregar algo que vai tanto contra o padrão de filmes de super-heróis actual, especialmente na linha do que são todas as adaptações de personagens da Marvel ao cinema. Não é possível destacar o suficiente a importância deste facto e só através dele é que é possível olhar para Logan não como o último filme de Hugh Jackman como Wolverine, mas sim como o filme definitivo do Wolverine. Esta era uma opção que tinha de ser tomada, por mais que custe retirar o filme de super-herói do lugar onde está posicionado, unicamente junto de um público mais jovem e de uma base de fãs muito específica. Existem sempre cenas que remetem para o conceito mais comum deste género de filmes, especialmente quanto mais caminhamos para o final, mas nunca se limita ao comum apenas.
A personagem de Laura é o outro elemento diferenciador num filme que opta por muitos caminhos pouco convencionais. A estreia de Dafne Keen no grande ecrã fica marcada a um argumento que não trata a figura da criança como tal, acabando por ser muitas vezes mais bem definida do que a do próprio Logan. Um pouco como o que acontece em Léon: The Professional, onde sem deixar de reconhecer inocência à personagem de Mathilda, nunca a vemos como vulnerável e percebemos que acaba por assumir um papel fulcral no modo como se define a personagem central, aqui Laura guia Logan rumo a um final que parece previsível e certo no início, dando imprevisibilidade a um argumento que, ainda assim, não deixa de surpreender em muitos mais aspectos.
A evolução das personagens e de um mundo situado num futuro muito mais distante do que aquele que temporalmente é situado em 2029 é retratado pelo foco de James Mangold em planos repetidos e simbólicos. Aqui a cena mais repetida e significativa acaba por ser a da viagem de Logan, Xavier e Laura de carro em várias situações diferentes onde a simples expressão e aspecto das personagens, no plano que nos é dado, tem mais para nos dizer do que qualquer outro diálogo. A evolução feita através de momentos cruciais do filme ou de diálogos mais carregados de simbolismo neste universo dos X-Men parece sempre diminuta quando comparada com aquela que é feita nos momentos onde impera o silêncio.
Logan é um filme sobre um super-herói, ainda que completamente fora da personagem que foi apresentada em aparições anteriores, mas não é um filme de super-heróis. Quebra-se aqui um padrão bem estabelecido, ficando apenas a questão do porquê de terem passado 17 anos até ser feita uma experiência fora do que foram todos os outros filmes dos X-Men. Não se trata da violência e do sangue que aqui temos em grande quantidade, ainda que estes sejam elementos que não percebemos agora como é que podiam faltar em filmes anteriores do Wolverine, mas sim da abordagem adulta e séria que foi feita a este universo que se encerra agora para duas das caras mais emblemáticas do mesmo. Ninguém estranharia se James Mangold optasse por seguir a fórmula que lhe garantiria o maior lucro com o menor esforço, mas deste modo fica ligado àquele que é um dos melhores filmes que já foram feitos dentro deste género.