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Um dia após a tragédia que viria a marcar o 13 de Novembro, noite em que Paris foi alvo de um devastador ataque terrorista, o GNRation em Braga recebeu uma sessão de cinema-musicado: a banda portuguesa You Can’t Win, Charlie Brown sonorizou uma edição restaurada de Maudite Soit La Guerre.
Datado de 1914, o filme é tudo aquilo que se espera da sua época. Entre o amadorismo dos primórdios do Cinema, os planos fixos e frontais, e o uber-dramatismo dos actores (por vezes, parecem saídos de um sketch), trouxe cor ao grande ecrã fazendo uso de uma técnica experimental: cada frame foi pintada à mão, resultando numa peculiar mas simpática estética. Ao longo do filme, transitamos entre tons pastel em tempo de paz e o contrastante encarnado que caracteriza a morte em batalha.
O realizador francês Alfred Machin lança neste melodrama pacificista uma visão terrivelmente premonitória, retratando um conflito bélico em vésperas da I Grande Guerra (1914 – 1918), entre dois países que não conseguimos identificar. Aliás, alguns dos seus filmes acabariam por ser usados pelo exército francês durante o conflito, razão que o levaria a dedicar-se a documentar o mundo animal após 1920
A narrativa tem como personagem principal Lidia e Adolf. Enquanto o jovem faz o seu treino de aviador, na companhia de Sigismond (irmão de Lidia), apaixonam-se mas a guerra separa-os, quando Adolf é mobilizado pelo seu país para lutar contra a nação da família que o acolhera. Escravo da disciplina, acaba por se revelar um dos melhores pilotos e em que campo de batalha é implacável e destrutivo. Com efeitos especiais toscos mas muito inovadores à época, vemo-lo a tornar-se o pior inimigo do exército oposto, que convoca o seu melhor carrasco: nem mais nem menos, que Sigismond.
São estas as vítimas da guerra, os laços e os corações que se quebram, as famílias desfeitas, os futuros aniquilados, os amigos que se defrontam em campo de batalha. Lentamente, a vida de Lidia regressa à normalidade mas acaba por se deparar com outra tragédia inesperada, quando descobre que – afinal – foi o actual noivo que derrubou Adolf em campo de batalha, num moinho – curioso elemento que marca a cinematografia de Alfred Machin. A vida de Lidia enche-se de dor e conflito interno, acabando por se entregar ao silêncio e ao recolhimento de um convento.
No tempo em que os talkies ainda estavam a surgir – só em meados da década de 1920 é que o som seria generalizado – a trilha sonora de acompanhamento era fulcral para o filme. Nesse aspecto, o trabalho dos portugueses You Can’t Win, Charlie Brown foi irrepreensível, tornando ainda mais intenso todo o sentimento presente no grande ecrã. Conseguiram ser a voz da dor e da derrota de todas as personagens, uma segunda pele da visão fatalista de Machin, ainda que volvidos 100 anos desde a sua produção. O cruzamento entre um passado tão distante e toda a modernidade da sua sonoridade, resultaram na perfeição.
A nós, portugueses, falta-nos muita cultura de Cinema, arte que nasceu no nosso continente. Raramente nos dedicamos a redescobrir tesouros destes do passado, apesar de toda a tecnologia disponível. Por outro lado, justiça seja feita, são poucas as entidades que têm a coragem de recuperar tais registos históricos e, nesse aspecto, o festival Curtas de Vila do Conde tem dado um contributo inigualável, através da sua secção Stereo – para a qual foi criada esta colaboração inicialmente.