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O novo filme de Tim Burton traz ao grande ecrã uma história à sua medida (ele tem sido perito em encontrar narrativas assim): Um conto de fadas extravagante, cheio de personagens absurdas, ao mesmo tempo negro e inocente. Baseado no best-seller homónimo de Ramson Riggs, Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children segue as pisadas do jovem Jake (Asa Butterfield), que depois da morte do avô (Terence Stamp) decide investigar as histórias que este lhe contara na infância. As pistas acabam por conduzi-lo a uma ilha remota onde existe um orfanato em ruínas, bombardeado na Segunda Guerra Mundial. No entanto, um vórtice temporal oculta um lugar suspenso no tempo onde habitam crianças que nunca envelhecem e detêm poderes incríveis: a casa da Senhora Peregrine. Lá residem Emma (Ella Purnell), capaz de manipular o ar, Olive (Lauren McCrostie), que incendeia tudo o que toca, Hugh (Milo Parker), que tem um enxame a viver na barriga, Millard (Cameron King), que tem o dom da invisibilidade, Claire (Raffiella Chapman), que tem uma segunda boca na parte de trás de sua cabeça, Enoch (Finlay MacMillan) que consegue atribuir vida a corpos inanimados. E Miss Peregrine (Eva Green), a governanta com o poder de controlar o tempo e de se transformar numa ave, que tem a missão de as proteger de um grupo de dissidentes também peculiares liderados por Barron (Samuel L. Jackson), que lhes cobiçam os olhos para atingir a imortalidade.
O argumento de Jane Goldman, escrito a partir do texto de Riggs, contém vários elementos típicos das histórias de Tim Burton – uma narrativa de época com personagens proscritas, a temática coming-of-age, o anacronismo e a mistura de diferentes espaços e tempos, o humor negro, a violência caricaturista: estamos perante um filme para crianças, que não deve ser visto por crianças. Nesse sentido, é o banquete perfeito para o palato excêntrico do cineasta, que naturalmente consegue absorver estes recursos e traduzi-los numa linguagem própria. As personagens têm a estranheza agridoce de Edward (de Edward Scissorhands) ou Jack (de The Nightmare before Christmas) e são encarnadas por um leque sólido de actores muito jovens (destaque para Ella Purnell), embora a personagem de Eva Green, ainda que pouco desenvolvida, arrebate as atenções (ela será, muito provavelmente, a próxima musa do realizador). Mas, como não poderia deixar de ser, é na dimensão visual e no design de produção que Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children se percebe como mostruário do cinema burtoniano: as cores contrastantes (os tons quentes do mundo da Senhora Peregrine vs. as paisagens cinzentas do mundo “normal”), as esculturas de jardim que parecem esculpidas por Edward, a animação stop-motion, o detalhe da mise-en-scène, os figurinos vitorianos, os penteados exuberantes.
Depois de dois primeiros actos desenvolvidos a um ritmo que consegue imergir o espectador naquela fantasia, é apenas de lamentar que o filme perca a magia no acto final, ocupado por demasiadas personagens em cena, sequências de acção computorizada, pouco mistério e pouco coração. Em suma, Miss Peregrine’s Home for Peculiar Children é visualmente apelativo e mais do que suficiente para matar saudades da estética burtoniana, mas – por abuso de fórmula e falta de textura da personagem com maior potencial (Misse Peregrine/Eva Green) – talvez não consiga transmitir o encantamento do costume. Seja como for, para aficionados, é um parque de diversões. Também Tim Burton o terá percebido assim (não fosse também ele uma criança peculiar), como de resto é denunciado num rapidíssimo cameo, a descobrir…