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Miss Sloane
Título Português: Miss Sloane - Uma Mulher de Armas | Ano: 2016 | Duração: 134m | Género: Drama, Thriller
País: Estados Unidos | Realizador: John Madden | Elenco: Jessica Chastain, Mark Strong, Gugu Mbatha-Raw, Michael Stuhlbarg

John Madden é o realizador de uma grande pessegada chamada Shakespere in Love, um dos mais absurdos Óscares para melhor filme, num ano em que havia A Vida é BelaA Barreira Invisível ou Resgate do Soldado Ryan. E também de Proof, filme mansinho, quase telefilme, sobre a complexidade cerebral de um matemático. Já lá vão mais de dez anos, mas seria de ficar de pé atrás com esta incursão de Madden pelos bastidores da política americana. Seria, mas não é.

O filme centra-se numa lobista e, desde logo, Madden tem um mérito: escolher a extraordinária Jessica Chastain para o papel principal. Desde As Serviçais até Um Ano Muito Violento, desde Árvore da Vida até 0:30h Hora Negra, passando por Procurem Abrigo, é muito fácil recordar uma mão-cheia de grandes papéis de Chastain. O desempenho é óptimo, mas uma boa actriz e mesmo um bom papel não fazem um bom filme. Só que os méritos de Madden não se ficam pela escolha da protagonista…

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Jessica é Elizabeth Sloane, uma workaholic e ambiciosa mulher que recebe uma dupla proposta, no que é também uma encruzilhada: defender o lobby das armas no escritório onde trabalha ou mudar-se para o outro lado, com muito menos trunfos e possibilidades de ganhar? Sem simplificações básicas, o argumento de Jonathan Perera e o filme de Madden deixam bem presentes o choque entre duas vertentes: a sede de vitória e os princípios. Ao mesmo tempo que vai mostrando um lado misterioso da personagem que lhe acrescenta complexidade

Tal como Nos Idos de Março, de George Clooney, Miss Sloane é um belo testemunho sobre a perversão política dos Estados Unidos (e não só), a que acrescenta a importância da linguagem mediática e a influência extrema de certos sectores nas decisões públicas (no caso, das armas). Fá-lo de forma crua, muito crítica, mas não excessivamente sensacionalista, sem idolatrar a personagem principal. E é também um óptimo thriller, mantendo a tensão e o ritmo ao longo de mais de duas horas e jogando com os avanços e os recuos temporais da acção, entre as manobras para influenciar o voto dos senadores sobre o projecto de lei para limitação do acesso às armas e o inquérito no Senado a Elizabeth Sloane.

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A narrativa em torno de uma das personagens, Esme Manucharian, que passou na adolescência por uma espécie de Columbine, vai longe demais. E, visto por um certo prisma, pode haver um lado demasiado idílico no final. Mas não há aqui qualquer tipo de romantização, de happy-end simplista, e nada que diminua a força dramática, de grande espectáculo de Hollywood, do desenlace do filme.

No fundo, se havia coisa pouco provável era que, na actualidade, John Madden honrasse a herança do grande cinema liberal norte-americano, de Robert Redford ou Sidney Lumet. Visto o filme, talvez tenhamos sido demasiado injustos… Miss Sloane é uma bela surpresa e abre o apetite para espreitarmos alguns dos filmes mais recentes do realizador.


sobre o autor

Joao Torgal

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