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My Father’s Tools é uma curta-metragem de cariz observacional selecionada para ser exibida no Festival de Sundance deste ano. Não é pretensiosa e utiliza uma linguagem simples, mas está carregada de detalhe e graças ao formato ganha novas leituras com cada novo visionamento. Nos seis minutos de duração vemos um homem a cortar uma árvore e a transformar a madeira numa cesta, nada mais. É nesta altura que começamos a questionar se a obra deve viver por ela própria ou se deve ser contextualizada para se poder chegar a um entendimento mais coeso, sem certezas mas com pistas. Sempre tive esse dilema e acabo por recair sobre o valor hermético do objecto artístico, não deixando de olhar para a memória descritiva como uma curiosidade acessória.
Este documentário canadiano é o primeiro trabalho da realizadora aborígene Heather Condo. Ela decidiu filmar o marido, um artesão tradicional da comunidade Mi’gmaq em Gesgapegiag, no Quebec, que pratica a sua arte na esperança de honrar o pai. Stephan Jerome parece encontrar uma espécie de paz interior, em silêncio no estúdio, ligando-se espiritualmente à pessoa que lhe ensinou aquela arte ancestral. Nas palavras da realizadora “é importante contar contar esta história, porque há uma falta de conhecimento generalizada do trabalho envolvido na construção tradicional de cestas. É uma arte ancestral e não há mais ninguém naquela zona a fazer algo semelhante. O que o Stephan faz deve ser documentado para as gerações futuras”.
É de facto interessante assistir a todo aquele processo, o que parecem gestos simples, ganham uma nova dimensão quando começamos a perceber a complexidade do processo e o peso da experiência que o protagonista carrega aos ombros. As tatuagens no corpo e a roupa moderna, contrastam com os séculos depositados naquele pequeno objecto que começou no tronco de uma árvore. Heather Condo nasceu no Quebec, mas mudou-se muito cedo para Massachusetts, depois de ter sido adoptada. Em 2005 voltou às suas raízes aborígenes no Canadá, onde a maior parte da família residia, começando a namorar a ideia de mostrar ao mundo a herança ancestral do companheiro, sendo finalmente empurrada pelo filho para o projecto. Esta obra intima e pessoal acabou por ser apoiado pela Wapikoni mobile, um estúdio móvel equipado com tecnologia de ponta, que tem como missão divulgar o trabalho desenvolvido nas Nações Indígenas Canadianas.
Para saber mais, não só acerca desta curta-metragem, mas também de outras centenas de trabalhos desenvolvidos pela Wapikoni Mobile, basta seguir o link. Esta obra acaba por ser um excelente ponto de partida para os mais interessados em descobrir novas linguagens, artes e histórias de uma comunidade pouco documentada. É um trabalho íntimo mas extremamente cativante, sem palavras mas que nos diz muito.