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«É habitual existirem várias bandas sonoras para um único filme mudo, muitas delas compostas anos e anos depois da realização do filme. Na verdade, era já prática habitual, no tempo do mudo, um filme ser apresentado com diferentes bandas sonoras, consoante a sala em que era projectado e os recursos de que ela dispunha: se dispusesse de uma orquestra, ela poderia tocar durante a projecção do filme; mas se a sala só tivesse recursos para contratar um pianista, um pianista seria. E o próprio conteúdo musical variava imenso, sendo frequentemente escolhido a partir de música pré-existente, com o auxílio de catálogos – as chamadas cue sheets – que identificavam diferentes tipos de música – por exemplo música de amor, música de cavalaria, música diabólica – cabendo depois a quem apresentava o filme escolher música adequada para acompanhar, a cada momento, o filme. Outras vezes, a música era simplesmente improvisada. Mas também acontecia, embora fosse menos frequente, encomendar-se a um compositor música propositadamente escrita para o filme: é o caso de Nosferatu, para cuja estreia, em 1922, Hans Erdmann compôs uma banda sonora original para orquestra.», explica-nos o site da Casa da Música. Em Fevereiro de 2017, em pleno dia dos namorados, a sala do Porto exibiu o clássico do cinema orquestrado ao vivo pelo Remix Ensemble.
Datado de 1922, Nosferatu permanece nos dias de hoje um filme verdadeiramente aterrorizante. Ainda o travelling não tinha sido inventado, e já cada plano nos transportava para o imaginário fantasmagórico de “Drácula” de Bram Stoker, obra literária de 1897. Uma viagem à Transilvânia, um aristocrata noctívago, uma picada no pescoço, um surto de peste e o resto é história. Não há muito mais a dizer sobre esta narrativa sobejamente conhecida.
O que surpreende ainda é a capacidade visionária de Murnau, nome maior do expressionismo alemão – uma corrente que distorcia a realidade, expressando-a com exacerbada angústia. Nosferatu é um vulto silencioso e enigmático, de rosto deformado e mais animalesco que humano. A inexistência da tecnologia cinematográfica torna tudo ainda mais tosco, o registo mudo pela ausência do som exige performances mais carregadas, e o preto-e-branco povoa o filme de névoa e sombras.
95 anos nos separam desde o lançamento, uma Alemanha destruída e um mundo pós-guerra reconstruído. Se Nosferatu tem a capacidade de me fazer temer as sombras, que efeito terá tido em quem o viu na noite de estreia? Ou seriam as pessoas mais rijas do que quem vive no século XXI, era em que já nem há mistérios sobrenaturais?