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On The Milky Road
Título Português: Na Via Láctea | Ano: 2016 | Duração: 125m | Género: Drama, Comédia, Fantasia
País: Sérvia, Reino Unido, EUA | Realizador: Emir Kusturica | Elenco: Emir Kusturica, Monica Belucci, Sergej Trifunovic, Sloboda Micalovic

Assim que o filme começa, podemos ler que o mesmo foi inspirado em três histórias reais e muitas fantasias. On The Milky Road conta-nos as peripécias de um homem com um passado de violência. Aparentemente imune ao contexto de guerra em que habita, está decidido em não deixar que o conflito interfira com a sua existência pacata enquanto músico e correio de leite. Sem saber muito bem como, vê-se envolvido numa disputa entre duas mulheres: de um lado, uma italiana procurada por criminosos internacionais e destinada a casar com um veterano de guerra, do outro, a irmã louca desse mesmo veterano.

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É difícil olhar para esta história como outra coisa que não uma história de fadas adaptada aos tempos modernos. O mundo construído, apesar de ter fortes raízes num lugar e num conflito bem real, é pautado por situações que parecem saídas de um livro infantil. Os elementos estão todos lá: dois reinos em guerra, princesas prometidas e um herói espiritualmente ligado aos animais que o rodeiam. No início deixamo-nos emaranhar naquele mundo e rimo-nos com as tropelias criadas por Kusturica, o universo criado é tão forte que nos engana naquela primeira hora em que achamos estar a ver algo de novo, mas a magia rapidamente desvanece e somos confrontados com a dura realidade que é a estagnação de um realizador. O problema pode ter mesmo a ver com a duração do filme, que não é muita, mas é o suficiente para ver ideias esticadas até à exaustão e tornar a experiência verdadeiramente enfadonha. Mas, ainda pior do que isso, é tentar o tipo de comédia pela qual Kusturica é conhecido quando a plateia já não está predisposta a rir e não vislumbra sequer um objectivo na narrativa. O ritmo frenético da primeira parte é substituído por uma lentidão difícil de digerir e por quebras desnecessárias, preferindo sair do caminho para uma qualquer metáfora em vez de tornar o percurso orgânico e uno com a história.

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As interpretações de todos os envolvidos estão completamente de acordo com o tom da trama. Não é fácil julgar uma interpretação sem compreender a língua, mas tudo parece sincero e perfeitamente mesclado com aquele mundo fantástico. Os efeitos digitais, apesar de não serem os melhores, estão perfeitamente de acordo com o universo criado e é especialmente interessante assistir a todo o trabalho feito com animais, é difícil mas acabam eles próprios por se tornar em personagens centrais. Toda a fusão entre realidade e fantasia está extremamente bem conseguida, mas é tudo gasto na primeira metade do filme e quando há pouco para contar, tudo parece inócuo e desprovido de significado, pelo menos até chegarmos ao final. O final do filme faz todo o sentido, é comovente e carregado de significado, o que torna tudo ainda mais trágico.

Esta podia ser a obra de ruptura de um realizador acarinhado pelo grande público, a mais sumarenta e ao mesmo tempo a mais contida, mas há tiques que dificilmente se perdem. Podemos olhar para elementos do filme e aprecia-los pelo que são, mas isso não é ser objectivo e seria falso não achar que o produto tem de ser coeso para ser verdadeiramente apreciado. A magia transforma-se em tédio e a mensagem perde-se na tradução.

 

 


sobre o autor

Jose Santiago

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