//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Vou ignorar a mentira que nos é contada no material promocional e relatar a verdadeira premissa por detrás deste Passageiros. Cerca de 5200 pessoas estão em trânsito para Homestead II, um planeta habitável e com condições ideais para a sobrevivência humana, mas que fica a 120 anos de distância da Terra. Durante a maioria da viagem todos terão de estar em animação suspensa e 20 anos depois do início algo corre mal, uma das cápsulas de suspensão avaria e acorda Jim Preston, um mecânico que acaba por ficar sozinho, condenado a uma vida solitária e a morrer antes de chegar ao destino. Depois de meses a tentar lidar com a situação, passa pela cápsula de Aurora Lane, por quem imediatamente se apaixona começando a ponderar acordá-la, libertando-se do fardo da solidão mas ao mesmo tempo condenando-a ao mesmo pesadelo. Como tudo já nos foi apresentado, Jim cede ao desespero e acorda a segunda personagem deste filme.
A primeira metade do filme é infinitamente melhor que a segunda, uma história negra sobre um tipo que decide condenar outra pessoa por motivos egoístas acaba por se tornar numa glorificação do síndrome de Estocolmo com apontamentos cómicos, que eu suspeito não serem a intenção do guião original. Há vários momentos onde só se pode culpar o realizador, também ele glorificado com um trabalho mediano em O Jogo da Imitação, conseguimos ver situações com um peso assombroso a serem reduzidas a momentos leves de romantismo clássico, tudo culpa de uma má leitura do guião de um filme que deveria passar a ser caso de estudo. Todas as questões levantadas no início do filme são verdadeiramente interessantes, seriamos capazes de destruir a vida a outra pessoa, uma pessoa que não conhecemos e que apenas endeusámos à custa de uma circunstância extrema? É expectável que o amor cresça só pelo factor isolamento? Tudo isto é colocado em segundo plano, tornando o filme numa banalidade fácil de ver.
Isto não é dizer que o filme não entretém, mas não vai além disso e torna-se num produto estranho quase amorfo e perigoso com a legitimação de um acto moralmente reprovável. A dualidade tão bem-vinda neste tipo de projectos é quase apagada pelo carisma dos dois actores principais, não seria bem mais interessante ter um tipo não atraente a acordar a mulher mais atraente da nave? Seria um melhor ponto de partida para todas as questões apresentadas. Esteticamente é uma mescla de “homenagens” demasiado óbvias, encontramos a mesma estrutura circular da nave de um 2001: Odisseia no Espaço, um bar muito semelhante a The Shinning e uma cena que envolve um machado numa porta que nos leva outra vez para o mesmo filme. A segunda metade torna-se num drama de desastre espacial com tudo aquilo que já encontrámos noutros sítios e não se espantem se adivinharem o resultado de todas as situações, o filme recusa-se a surpreender.
Não podemos culpar Chris Prat nem Jennifer Lawrence de nada, se a direcção tivesse sido diferente estou certo de que estariam à altura do desafio e há momentos onde vemos isso. São dois excelentes actores e mesmo Michael Sheen é brilhante como o bartender de serviço, um andróide que serve de companhia a ambas as personagens e consegue captar na perfeição uma personagem-tipo e como a inteligência artificial reagiria a tudo o que se está a passar. Há a inclusão de mais dois actores “surpresa” e se de um percebo, com o outro fico completamente confuso, não é um perfeito desconhecido (bem pelo contrário) e não diz uma única palavra, tem 15 segundos em cena.
Vou escolher colocar todas as culpas no realizador, claramente não percebeu o material que estava a tratar e desperdiçou uma rara oportunidade para fazer um filme verdadeiramente original. Não deixa de ser divertido, com cenas de acção bem planeadas e bem agradáveis à vista, não vai incomodar o espectador mais casual e vai ser lembrado pelas piores razões, como uma carta mal gasta e que podia ganhar o jogo.