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As relações humanas, com a complexidade e extensão que lhes são reconhecidas, são um dos temas mais recorrentes em obras cinematográficas. Percebemos desde os primeiros instantes que é este o caminho que o realizador catalão Carles Torrens quer explorar em Pet. Conhecemos os protagonistas e entendemos o tipo de relação disfuncional que se vai desenvolver ao longo de uma introdução bastante extensa, mas, de um momento para o outro, somos surpreendidos com o destino que Torrens tinha para a relação que cultiva entre as duas personagens principais.
Desde o primeiro momento que seguimos Seth, um individuo solitário responsável pela limpeza de um canil onde se arrasta até ao final de cada dia sem grande propósito. Numa das viagens de autocarro para casa encontra Holly, uma rapariga com quem partilhou os seus anos de escola, sem que realmente a tivesse conhecido nessa altura. O vazio que preenche Seth leva-o a tentar forçar uma relação com Holly a qualquer custo, levando-o, com uma boa dose de desespero, a raptá-la e aprisiona-la numa jaula no seu local de trabalho. O foco de Pet são os encontros entre Seth e Holly naquela pequena sala debaixo do canil, onde, a cada encontro, a relação entre os dois parece virar-se completamente do avesso.
De um certo modo, Pet lembra-nos Gone Girl, de David Fincher, havendo aqui dois momentos cruciais: as cenas iniciais, onde conhecemos Seth e ficamos a saber as suas motivações para seguir Holly e, em segundo lugar, o momento em que começamos realmente a conhecer Holly, depois de esta ser raptada por Seth. Tudo o que assumimos numa primeira fase é desconstruído na segunda, até percebermos que as posições de vilão e vítima podem não ser tão claras quanto imaginamos. Por mais de metade da duração de Pet não nos é possível tomar uma posição, sendo que as informações novas e relevantes acerca de cada personagem continuam a surgir a um ritmo interessante.
Ainda que a tentativa de tentar dar a conhecer cada personagem pelos olhos de outra esteja bem conseguida, não sendo possível entender num primeiro momento o que poderá corresponder à verdade, falta alguma coerência nas acções de Seth e Holly. Independentemente daquilo que viremos a saber das personagens, as reacções de ambas parecem muito pouco naturais em vários momentos. São queimadas etapas entre os encontros, mostrando que a partir desse momento Carles Torrens tem demasiada pressa em chegar ao ponto que quer provar mais à frente. Este acaba por ser o maior pecado de Pet, que consegue desenvolver-se bem e a um ritmo adequado inicialmente, mas que se perde a partir do momento em que o foco cai sobre uma sala e duas personagens apenas.
Chegando ao final, percebemos bem o que Carles Torrens quis mostrar ao longo de hora e meia. A complexidade das relações humanas acaba, realmente, por ser o tema central, mas explorado aqui de um modo progressivamente mais disfuncional, ultrapassando a certa altura aquilo que conseguimos reconhecer e acreditar. A velocidade a que as relações sofrem mutações ultrapassa o conteúdo disponível e uma ideia promissora acaba por não resultar tão bem quanto poderia.