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Porto
Título Português: Porto | Ano: 2016 | Duração: 76m | Género: Drama, romance
País: Portugal/França/EUA/Polónia | Realizador: Gabe Klinger | Elenco: Anton Yelchin, Lucie Lucas, Françoise Lebrun, Paulo Catarré

Um americano e uma francesa, num país em que ambos são estrangeiros, vivem uma história de amor que, parafraseando o escritor francês novecentista Henri de Régnier, é eterna enquanto dura. E, neste caso, dura apenas uma noite, porque a certa altura aparece um terceiro elemento na narrativa a trazer o par de volta a realidade e a esfumar o que parecia uma relação idílica.

Não, não é a ideia mais original do mundo. Mas tal como a originalidade de uma história não lhe garante um certificado de qualidade, também o facto de um filme se debruçar sobre um tema já várias vezes explorado anteriormente não o impede de seguir o seu próprio rumo e de demarcar a sua personalidade. E no caso de Porto, de Gabe Klinger, ainda que esteja longe de ser uma obra-prima, essa personalidade é assegurada pela sua estrutura, pela forma como está filmado e, claro, pela relação entre as suas personagens centrais. No fundo, por tudo aquilo que define o cinema enquanto objecto artístico.

Mesmo que, inicialmente, Porto pareça uma obra muito fragmentada, simultaneamente elíptica e repetitiva, a partir de determinada altura a intenção do cineasta acaba por vir ao de cima: apresentar a mesma história três vezes sob diferentes perspectivas e até formatos (Super 8, 16mm e 35mm). Assim, a primeira parte apresenta o ponto de vista de Jake (Anton Yelchin, um actor tragicamente morto no ano passado, após um acidente à saída da sua própria casa, e que teve aqui um dos seus últimos papéis), um americano de 26 anos, filho de um diplomata, mas que só consegue ter empregos temporários. Contudo, como o próprio diz, não vive para o trabalho, antes à procura de qualquer coisa que não consegue definir. A segunda parte segue o ponto de vista de Mati (Lucie Lucas, uma actriz conhecida principalmente pelos seus trabalhos em séries televisivas), uma académica francesa um pouco mais velha do que Jake, que apesar de parecer menos comprometida e obsessiva do que ele na relação entre os dois, não consegue impedir que a atracção se imponha. A terceira parte, onde se sublima a visão do realizador, funde as duas anteriores e ao mesmo tempo que amplia esta história de uma atracção tão natural como indomável e que deve a sua existência à cidade que dá título ao filme.

O Porto, filmado por Klinger, não é uma atracção turística. Apesar de lá aparecerem alguns dos seus locais emblemáticos, como a Ponte D. Luís, a Ribeira ou o café Ceuta, esses elementos servem para situar as personagens, não para cumprir qualquer caderno de encargos que publicite a cidade pela via do cinema. Embora tenha contado com o apoio da autarquia, este é claramente um filme de natureza independente, ou seja, que não pretende ser consensual e agradar a toda a gente. E, também por isso, é um daqueles filmes que não procuram a perfeição técnica. Pelo contrário, assume as suas fragilidades, a sua leveza ao mesmo tempo experimental e melancólica.

Nota-se, por um lado, a preocupação do realizador na composição dos planos e a vontade de explorar as potencialidades da montagem e dos diferentes suportes de captação de imagens em movimento. Nesse sentido, poder-se-ia pensar que é uma obra muito estilizada, até porque não é tanto a história, mas o modo como ela está contada (com constantes flutuações temporais e de perspectivas), que dá sentido ao filme. No entanto, Klinger conseguiu equilibrar a preocupação estética com uma certa imprevisibilidade na sua câmara e no tratamento das personagens, até para as tornar mais reais aos olhos de quem testemunha a sua relação. É que, por mais cerebral que seja na sua estrutura, este é um filme que pretende tocar a sensibilidade dos espectadores.


sobre o autor

Luís António Coelho

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