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O cinema português liberta-se a pouco e pouco de um estigma já de estimação: o preconceito de que a produção nacional é fraca e fica muito aquém dos pares internacionais. Contudo, apesar da redescoberta dos dons cinematográficos, os títulos ainda não encontraram o seu espaço no circuito comercial, deixando nas mãos dos cineclubes, instituições locais e festivais especializados a exibição, o que dificulta ainda mais a sua propagação – aliás, foi graças ao Theatro Circo de Braga que tive a possibilidade de ver este Posto Avançado do Progresso na grande tela, como merece, um olhar sob dois portugueses que chegam a um entreposto comercial numa zona remota do Rio Congo no final do séc. XIX.
Perdidos no meio selvagem, ficam entregues à sua ideologia colonialista de quem leva o progresso aos selvagens, e faz a gentileza de lhes mudar a vida, submetendo-os à escravatura para o bem da metrópole e seus interesses superiores.
Trajando sempre branco cada vez menos imaculado, contrastam permanentemente com os locais – de pele escura, descalços na poeira, reduzidos aos trapos sujos com que se cobrem. A desconfiança de um deles é permanente, vivendo sempre de pé atrás, ao passo que o outro se aproxima dos autóctones convivendo e partilhando com eles os dias e as tradições. Contudo, o tempo passado na floresta tropical, a sensação de abandono da civilização e a entrega ao álcool como forma de desanuviar do insucesso da sua empreitada, conduzem-nos ao delírio e ao declínio – enfim, uma boa metáfora do estado do colonialismo português, incapaz de se afirmar nos territórios ultramarinos.
Impecável tecnicamente, inteligente na crítica subtil, Posto Avançado do Progresso é uma obra-prima do cinema contemporâneo. A realização atinge picos de genialidade numa das últimas sequências, quando a pós-realização adopta o género dos westerns do cinema mudo para filmar a perseguição de arma em riste.
Destaca-se muito particularmente a interpretação de Nuno Lopes, um dos melhores e mais versáteis actores desta geração (de quem tantas vezes separo e esqueço a sua versão em formato dj – enfim, há que fazer pela vida). Nuno Lopes é capaz de aguentar qualquer papel, qualquer carga emocional, qualquer época, com muita classe e confiança.
Porém, Posto Avançado do Progresso não cumpre totalmente a expectativa que gerou. O filme pontua com momentos de alucinação que lhe retiram alguma continuidade, excede-se na expressão artística e falha num dos segredos da magia do cinema: a capacidade de nos entreter. Consegue, porém, eliminar qualquer compaixão pelos colonialistas, deixando a nu a sua faceta usurpadora – o que lhe vale muitos pontos a favor.