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Roma
Título Português: Roma | Ano: 2018 | Duração: 135m | Género: Drama
País: México | Realizador: Alfonso Cuarón | Elenco: Yalitza Aparicio, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey

Uma longuíssima lavagem de chão. Um ainda mais longo estacionamento numa garagem. Um plano parado na varanda de uma casa, em que pouco ou nada acontece. Na primeira meia-hora, vemos algumas das cenas de Roma e testamos a nossa paciência. Será uma coisa ultra-formalista? Será uma obra que aposta tudo na estética e deixa a narrativa em segundo plano? Terá algo de Gravity, outro primor fotográfico, mas que praticamente esgota os trunfos nessa parte? A resposta a tudo isto é um não redondo.

Roma é uma imponente crónica social, entre o tratamento dos indígenas e o papel das mulheres.

Roma marca o regresso de Cuarón ao México. Depois do espaço, da produção de Hollywood e do circuito convencional, o realizador tem os pés assentes na Terra neste filme da Netflix. Passa da imensidão do Universo, para o bairro em que nasceu, numa espécie de regresso às origens. E fá-lo através de uma homenagem tocante à ama que o criou.

A parte puramente estética é um estrondo desde o primeiro instante. Não só na maravilhosa fotografia a preto e branco, mas também na importância do som, daqueles que faz a ida ao cinema ser fundamental (será muito estranho se não ganhar os Óscares para mistura e edição de som). E é curioso, paradoxal e motivo de reflexão que seja um filme da Netflix, com estreia apenas em Lisboa e no Porto e em muito poucas salas, a criar esta urgência (e a diminuir a experiência em casa, por maior que seja o ecrã e melhor que sejam as condições sonoras). Mas o filme é, de facto, muito mais do que isso.

A meio, Roma vira e não só o impulso dramático é tremendo, como todos os detalhes anteriores ganham sentido. Para dar alguns exemplos, o estacionamento tem outro estacionamento que o justifica. E a limpeza do chão tem um espelho metafórico impressionante, num dos momentos mais fortes de Roma (a cena do hospital é também evidente).

No evoluir desta família, a de Cuarón, que será aqui uma personagem secundária, o olhar pertence todo a Cleo, a ama, a personagem omnipresente, que segura as pontas na casa que não é sua enquanto vê a vida desmoronar-se. Vem à memória o magnífico Que Horas Ela Volta. Os contextos temporais e culturais são bem diferentes, do Brasil ao México, da actualidade aos anos 70, mas Roma é também uma imponente crónica social, entre o tratamento dos indígenas e o papel das mulheres. E, entre a ficção e a realidade, é uma curiosa reflexão sobre a memória e uma ternurenta homenagem a uma personagem tão simples quanto fascinante.


sobre o autor

Joao Torgal

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