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De Tanto Bater O Meu Coração Parou, título enigmático do filme de Jacques Audiard de 2005, deixava uma certa sensação de dúvida. Durante parte do filme, Thomas era uma bela personagem, situada no limbo entre os genes do crime herdados do pai e o sonho artístico de se tornar um pianista profissional. A tensão era suficientemente bem gerida e os traços do protagonista eram fortes, mas fica a sensação que a obra se espalha na parte final, desperdiçando tudo o que até aí tinha conquistado. A dúvida adensa-se em De Rouille et D’Os, Ferrugem e Osso na tradução para português.
Ali é um bruta-montes, sem grande responsabilidade, desprovido quase em absoluto de sensibilidade, desprezando o filho de cinco anos e que só pensa em ganhar dinheiro através da luta e de esquemas ilegais. Stéphanie é uma domadora de orcas com uma vida sentimental aparentemente instável (sabemos bem menos dela do que dele). Conhecem-se ocasionalmente numa discoteca, mas é após ela ter um acidente, que resulta na amputação das duas pernas, que os destinos de ambos se aproximam.
Audiard resiste, como habitualmente, ao melodrama de comiseração e não é por aí que estão os problemas do filme. Aliás, a forma como este casal improvável se aproxima é simultaneamente sóbria e criativa. A relação entre ambos não é de amor, não é de afecto, não é de pena, não é de interesse puro e simples, mas é um pouco de tudo, surgindo como uma necessidade inexplicável. O próprio diálogo sobre a noção de objecto sexual é criado sem excessos, sem falsos dramatismos.
Assim sendo, porque fica a ideia que Ferrugem e Osso é bem mais fraco do que a expectativa em seu redor? Porque parece que, tal como em De Tanto Bater O Meu Coração Bater, o filme perde consistência na parte final, com a humanidade que é criada em Ali a soar forçada e metida a martelo. Falta classe ao desenlace e é o suficiente para que grande parte da complexidade psicológica se perca. Por outro lado, a banda-sonora, recheada de cenas indie interessantes, como Bon Iver (em evidência), Lykke Li, M83 ou Hot Chip, aparece algo descontextualizada e soa a algum oportunismo.
Ferrugem e Osso não é um filme medíocre e conta com duas belíssimas interpretações nos papéis principais: Matthias Schoenaerts e uma Marion Cotillard de regresso aos grandes momentos, depois da desastrosa presença no fraquíssimo último Batman de Nolan. Mas, depois desse filme de prisão portentoso chamado Um Profeta, é quase impossível que não fique um certo travo de desilusão no ar.