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O 24º filme da saga, o 4º com Daniel Craig como protagonista e o 2º realizado por Sam Mendes traz de volta a atmosfera psicológica que caracteriza o James Bond da maioria dos filmes. Deixando de lado odouble-0-seven em início de carreira de Casino Royale e o Bond soturno e emocionalmente frágil de Quantum of Solace e Skyfall, Spectre é o regresso a um Bond cerebral e sedutor. São quatro filmes muito diferentes e, se encarados em conjunto, representam uma evolução muito interessante da personagem: é um trabalho de descoberta existencial, de construção do seu carácter, da revelação dos seus segredos e da superação dos seus fantasmas. Spectre devolve Bond, por fim, ao estilo cool e imperturbável dos filmes clássicos. Se este fosse mesmo o pontapé de saída de Craig, pode dizer-se que o actor cobriu, mais do que qualquer outro, a paleta possível de emoções: o trauma, a vingança, as cicatrizes psicológicas, a regeneração e o letting go.
Spectre mantém os ingredientes que renovam, a cada filme, a vontade de acompanhar as aventuras do agente secreto mais famoso do planeta. A sua cena de abertura, sempre um dos maiores pontos de interesse dos filmes, é incrível (apesar de inferior à de Casino Royale). O filme começa no México, em plena celebração do Dia de los Muertos, e oferece um lindíssimo plano-sequência do desfile de mascarados, para depois culminar numa cena de acção em pleno ar impecavelmente filmada. Asbond-girls de serviço Monica Bellucci e Léa Seydoux – duas actrizes europeias cujos nomes são (por razões diferentes) incontornáveis – sãocastings certeiros. A fotografia do holandês Hoyte Van Hoytema não fica nada atrás do trabalho de Roger Deakins em Skyfall (soberbo), sendo de destacar o trabalho de luz e sombra numa das principais cenas, em que Bond se inflitra numa reunião da organização secreta Spectre e se confronta pela primeira vez com o vilão da história, interpretado por Christoph Waltz. As cenas de acção, mesmo as mais violentas, são de uma elegância coreográfica (afinal, é um filme de Sam Mendes). Os companheiros do MI6 – “M” (Ralph Finnes, que substitui aqui a bond-girl absoluta, Dame Judi Dench), “Q” e MoneyPenny saem dos escritórios e sujam finalmente as mãos.
Mas falta a Spectre o que Casino Royale e Skyfall tinham de sobra: mistério e densidade dramática (nas histórias e nas personagens). Este é um filme de acção, que cumpre muito bem esse propósito, mas não deixa grande espaço a divagações. É indiscutível que este aspecto lhe retira interesse. O facto do argumento ser pouco inspirado (por comparação a Casino Royale e Skyfall), de Bellucci aparecer em cena durante uns parcos dez minutos e do incrível Christoph Waltz se limitar a personificar um vilão muito semelhante ao que vimos em Inglorious Bastards (mas sem o sotaque) também não ajudam. Este último será talvez o grande ponto fraco do filme. Waltz, que sucede a Mads Mikkelsen, Mathieu Amalric e Javier Bardem no papel do vilão, é completamente subaproveitado numa personagem desapontante e superficial, que claramente teria um potencial que o filme desperdiça. Contas feitas: Melhor do que Quantum of Solance mas inferior aos outros dois, Spectre é bem humorado e tem um ritmo alucinante, mas acaba por saber a pouco. Dizem as más línguas que Daniel Craig não ser livrará de interpretar Bond uma última vez, embora não esteja para aí virado. Esperemos que possa então fechar a sua participação com chave de ouro. Mas se isso não acontecer, será sempre lembrado como o mais humano, falível e autêntico Bond do lote. Um Bond com músculos, mas também coração – e com queda para francesas.