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Autor do argumento de Kids, polémico e desconcertante retrato destrutivo sobre a adolescência, lançado em 1995, Harmony Korine dirige aqui um filme cujo foco tem algumas semelhanças, mas em que a abordagem e os objectivos são notoriamente diferentes. Spring Breakers é menos pesado, mais irónico, mais hilariante.
Se dúvidas existissem sobre ao que vínhamos, os primeiros minutos tratam de as dissipar: sexo, alcoól, drogas, festa, praia, euforia e música electrónica má. O centro são quatro raparigas adolescentes que, não conseguindo reunir dinheiro suficiente para a tão ambicionada viagem de finalistas, resolvem assaltar uma estação de serviço com umas bisnagas. Tudo corre como pretendido e let the show begin. Uma viagem com tudo o que se espera, mais uma imprevista passagem pela cadeia, onde a respectiva fiança é paga por um gangster local (o surpreendente James Franco), que vê nelas um imparável potencial maligno. É neste período que todas as dúvidas surgem, ou será que não?
O que fornece interesse a Spring Breakers e o afasta dos filmes de adolescentes mais baratos é um certo descomprometimento na mensagem e um tom de paródia que chega a ser particularmente eficaz. Mesmo quando aperta a consciência de Faith (o nome está no ponto), claramente das quatro a mais equilibrada e amedrontada, o filme resiste ao cliché do alarmismo e da desgraça anunciada.
Assim, a obra reúne algum sarcasmo, nomeadamente quando se foca no sonho americano de riqueza e prosperidade a todo o custo, descontruindo a abordagem mais idílica do conceito, e principalmente muito gozo. Há cenas em que isso é particularmente notório, seja na pseudo-reflexão sobre a imobilidade do tempo, nas imagens do violento assalto ao som de uma balada de Britney Spears, na presença em tribunal das miúdas em… bikini ou no final, tão absurdo, quanto delirante. Para que tal resulte, é fundamental a construção formal do filme, através de repetições sucessivas e de recuperações temporais, numa espécie de retrato circular da futilidade.
Enfim, Spring Breakers não é portanto um retrato moralista ao jeito de uns Morangos Com Açúcar, nem uma comédia alarve para putos pouco exigentes. É antes uma obra jocosa sobre a violência e sobre os mais primários sonhos adolescentes, citando obras como Natural Born Killers, Trainspotting ou o património de Tarantino ou de Bret Easton-Ellis, sem naturalmente atingir o fulgor e o brilhantismo de qualquer um deles. E, no seu estilo politicamente incorrecto e de libertação moral, apetece por momentos sair da sala a gritar a frase mais repetida em todo o filme: “Spring Break Forever”.