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Há filmes que tem ideias ambiciosas para explorar e que se debruçam sobre temas suficientemente universais para interessarem mesmo aos espectadores que não sejam particularmente cinéfilos, mas que têm um problema que limita de forma inevitável o resultado final: são pouco ousados e demasiado esquemáticos, tanto no desenvolvimento do argumento como na sua abordagem estética. The Circle é um desses filmes. Não é que seja mau ou pior do que a maioria daquilo que sai de Hollywood. O seu problema é ser apenas um filme simpático, que não corresponde às expectativas que cria.
A história não podia estar mais na ordem do dia: uma mega empresa informática (cujo nome dá titulo ao filme), centrada nas cada vez mais omnipresentes e omnipotentes redes sociais, pretende analisar a vida dos seus utilizadores a partir da maneira como estes gerem as suas páginas online, os interesses e hábitos que manifestam ter. Tudo aparentemente claro e legal, até porque estão só a analisar aquilo que os próprios utilizadores disponibilizam voluntariamente para o mundo inteiro aceder. O problema surge quando a informação obtida pela organização começa a ser utilizada com intuitos obscuros, intervindo não apenas na vida privada das pessoas que fazem parte da rede social do Círculo, mas também daquelas que nada querem ter a ver com esse meio. Porque informação é poder, o Círculo quer saber tudo sobre toda a gente, de maneira a que os conceitos de segredo ou privacidade se tornem obsoletos. Porque, como o responsável principal pela empresa tenta provar, um mundo sem segredos nem privacidade é um mundo livre de mentiras. E de crimes. Resta saber, o entanto, se aquilo que a própria empresa pretende impor ao mundo não é, em si, um futuro muito mais monstruoso.
A discussão ética sobre o poder da tecnologia e a sua intromissão no nosso espaço privado há muito que veio para ficar. A partir do momento em que a tecnologia se tornou parte do nosso quotidiano, nunca mais deixará de ser um elemento modelador da sociedade e da nossa existência pessoal, por mais conflitos ou temores que desperte. Tudo isso é abordado pelo filme de uma maneira fluída, é verdade, mas sem o fôlego de uma obra capaz de vincar uma personalidade própria. E nota-se, apesar do tom moralista, o receio de ser demasiado assertivo no julgamento que é feito sobre as redes sociais. O próprio final do filme, apesar de querer surpreender o espectador, confirma esse receio.
Emma Watson não é uma actriz com uma presença vibrante, mas consegue, ainda assim, dar credibilidade à sua personagem. Como figura central da história, ela atravessa todo o espectro de emoções que o filme transmite: primeiro a felicidade e gratidão por ter conseguido entrar para uma empresa tão importante, depois o cansaço pela quantidade de horas que tem de dedicar ao seu trabalho, depois o súbito deslumbramento por, de um dia para o outro, passar de mera funcionária a figura simbólica do Círculo, seguida por milhões de utilizadores da rede social no mundo inteiro, e por fim o choque ao perceber qual é, na verdade, o objectivo da empresa e as consequências da realidade que ela pretende implementar.
Tom Hanks, na figura do cérebro do Círculo, aparece em meia dúzia de cenas. Embora tenha um certo carisma, ele é um enigma que não consegue tornar-se fascinante. Ele espelha a ideia de que os empresários informáticos que mais interferem na privacidade dos seus utilizadores são sempre figuras que revelam o mínimo possível sobre a sua própria vida. Ou seja, querem que as pessoas do mundo inteiro achem extremamente cool revelar o que fazem 24 horas por dia, mas não querem, eles próprios, ficar condenados ao mesmo padrão de vida. Percebe-se a intenção do realizador ao limitar as aparições da personagem de Hanks, mas para o tipo de ameaça que ele representa, o filme ganharia em mostrá-lo em situações mais intimistas e não apenas no quotidiano da empresa. Mas se isso acontecesse, o filme deixaria, por momentos, de estar centrado em Emma Watson. E se há algo que o realizador demonstra desde o primeiro momento é que não quer criar nenhuma sequência em que a sua actriz principal não esteja presente.