//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Oliver Stone sempre foi um realizador controverso. Acumulando funções de produtor, actor, argumentista, para além de trabalho de edição e cinematografia, o seu nome é habitualmente associado a histórias verídicas, como Nixon, JFK ou Born on the 4th of July ou semi-verídicas como Natural Born Killers, Wall Street,Platoon ou Any Given Sunday. The Doors foi lançado em 1991 e é, até hoje, um dos melhores filmes do realizador, retratando a mítica banda americana The Doors.
O filme acompanha a história de Jim Morrison desde os dias na UCLA a estudar cinema até à sua morte em Paris em 1971. Atravessa os principais momentos da banda, sobretudo os que estão envoltos em controvérsia: o comportamento rebelde de Jim, a conturbada relação com Pamela, o relacionamento entre Jim e cada um dos membros da banda, a dinâmica com Patricia, as drogas, a música, a poesia e todo o misticismo que envolve a banda e o vocalista.
Stone é um realizador imponente que consegue cativar o espectador desde os primeiros instantes. Goste-se ou não, ninguém é indiferente aos seus filmes e a toda a violência e sexualidade que os percorrem, quase como se uma besta tivesse sido libertada no momento em que a tela se abre. Precisamente por essa razão, Stone foi o realizador perfeito para dar vida ao filme sobre uma das maiores e mais místicas lendas do mundo da música: The Doors. Com mãos de mestre percorremos os momentos chave de cena em cena, saboreando todo o percurso, quer do lado público, quer do lado privado.
O filme abre com um momento da infância de Jim Morrison, que ficaria para sempre gravada na sua memória e que – em última instância – o definiria. Reza a lenda que o nome The Doors foi inspirado na célebre frase de William Blake If the doors of perception were cleansed, everything would appear to man as it is: infinite!. Na bela cena da praia entre uns jovens Morrison e Ray Manzarek, Stone traz-nos essa mesma citação antecipando o início de todo o mito.
O começo da banda foi meteórico, quer o momento de criacão de Light My Fire da autoria de Robby Krieger, mas creditada a todos, que se tornaria um dos maiores êxitos da banda, quer a rápida gravacão em estúdio, quer a ida ao deserto, quase em peregrinacão numa busca de inspiracão, quer a emissão televisiva em que Morrison – depois de ter sido explicitamente pedido à banda – profere em directo a palavra “higher” do verso “we couldn’t get much higher” e que dá início a toda a controvérsia que rodeia os rodeia e que afirmaria The Doors como um símbolo de liberdade, irreverência e misticismo.
Stone mostra um Jim místico, mas também humano. Um ser dividido entre o lado espiritual e todos os prazeres terrenos, que mais do que qualquer outra coisa almeja atingir um nirvana, uma transcendência que muitas vezes são justamente os sentidos que desbloqueiam, como a frase inicial de inspiração para o nome da banda indica. Stone mostra os dois lados: o lado poético levando ao endeusamento e também os vícios, as traições, o lado menos místico e mais terreno de prazeres e pecados. Stone mostra um homem que tenta, acima de tudo, encontrar-se e encontrar aquela paz a que tanto se aspira. Mostra a morte, sempre presente, como certeza última, tão central em toda a poesia e letras de Morrison. Outro ponto importante que é bem focado por Stone é a união e ligação entre todos os membros dos The Doors que, mesmo com atribulações, se conseguiu manter ao longo de todo o tempo.
As imagens e a música estão perfeitamente alinhadas, tornando o filme muito cativante, sobretudo para fãs dos The Doors. A cena entre Jim e Patricia, após a saída da prisão, está particularmente bem conseguida, com a When The Music’s Over como pano de fundo. Parece que cada tema foi escolhido para o momento exacto como Back Door Man num dos concertos ou a escandolosa The End na primeira vez que a tocam ao vivo. Ou, ainda, a maneira como Love Street começa a ser passada em off envolvendo-nos naquela cena entre Jim e Pamela.
O trabalho de caracterização é brilhante e todas as personagens estão muito parecidas com as pessoas que interpretam, nomeadamente Val Kilmer que se assemelha extraordinariamente a Morrison. As interpretações são notáveis e o filme não cai em maneirismos – apesar de todo o drama que acompanha a relação entre Jim e as mulheres da sua vida – mantendo-se tão actual ontem como hoje. Mais uma vez, Kilmer está particularmente extraordinário, pois consegue dar vida a esta lenda, usando toda a sua linguagem corporal, particularmente durante as cenas que retratam concertos.
Em português chamaram-lhe The Doors: O Mito de uma Geração, nome que se mantém actual e que, mesmo tendo na altura um contexto sócio-político, diria ser o mito de todas as gerações, devido ao som único e místico das músicas da banda com o qual se viaja sem sair do sítio mas que não está associado a nenhuma época em particular, mas sim mais a uma viagem interior; às letras poéticas, que dizem tanto com tão poucas palavras e ao estilo de profeta/poeta/orador do vocalista na maneira de se expressar em cada tema.
Tal como a música do grupo, este não é um daqueles filmes que se experiencie todos os dias – mesmo para quem adore o mito – mas The Doors é um filme ao qual vale sempre a pena voltar, sobretudo para fãs da banda que gostem de ter uma overdose destes acordes tão belos como intensos de tempos a tempos.