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The Florida Project é um filme realista, cruel e que vai directo ao assunto, sem rodeios: o sonho americano morreu (alguma vez existiu?), o país está cada vez mais desigual e a pobreza prende num ciclo sem oportunidades de saída. Mas é também um filme sobre a compaixão e o companheirismo, e uma celebração da vida e da inocência.
O cenário de fundo é Magic Castle, um motel low cost à porta da Disney World, pintado em tons pastel de sonho, que alberga as vidas desfragmentadas de quem por lá habita de forma permanente. Nos quartos do empreendimento encontramos famílias que sobrevivem com subsídios ou trabalhos mal-pagos e temporários, e vícios difíceis de combater. Não se percebe o papel da esperança no meio deste turbilhão, um lugar em que a resignação é sentimento dominante.
A precaridade é causa e efeito da situação individual. Particularmente o núcleo familiar que acompanhamos, Moonee de 6 anos e a sua jovem mãe Halley – rebelde e revoltada, mas que cuida da filha com toda a ternura -, aponta o foco na forma como a sociedade ignora deliberadamente a pobreza, as franjas sociais mais debilitadas e os proscritos, sem a menor preocupação em erradicar o problema de forma permanente.
Moonee e os seus amigos, porém, vivem alheios da sua condição, como é natural em tenra idade. Vamos encontrá-los nas férias de Verão e acompanhamos a sua alegria desenfreada e inconsequente, ainda que em permanente elogio à infância. A cada dia arranjam uma nova aventura, que é como quem diz uma nova patifaria, sem ponderar as consequências ou assumir os erros cometidos, pois não há quem lhes diga que agiram mal. A imitação do comportamento dos adultos é inevitável e em Moonee reconhecemos a imaturidade da mãe Halley, igualmente jovem e desacompanhada.
O filme desenrola-se sempre no ponto de vista dos petizes, com grande parte dos planos filmados ao nível do olhar da sua baixa altura, uma escolha interessante do realizador Sean Baker, cineasta apaixonado por revelar esta América ao mundo. Em 2015 já tinha inovado quando optou por usar três iPhones 5S na rodagem de Tangerine, filme sobre a prostituição e a comunidade transgénero.
Em The Florida Project vamos encontrar no papel de mãe Bria Vinaite, actriz descoberta por Baker através do Instagram e que desempenha o seu papel de forma visceral. Willem Dafoe é o gerente do motel e acaba por ser uma espécie de figura paternal do empreendimento. Sensível à situação difícil que todos vivem, expressa frequentemente um certo ar de “no que me vim meter”, mas em momento algum os abandona, aplicando um certo tough love na sua relação com Halley. É também guardião das crianças, lançadas ao mundo e expostas ao perigo, alinhando nas suas brincadeiras com muita paciência.
The Florida Project é um banho de realismo que nos deixa atarantados e pede a cada instante que nos coloquemos no lugar do outro, daquele que se revela no grande ecrã. Caímos na tentação de simplificar os problemas, mas a verdade é que estamos perante situações intrincadas que fogem à compreensão do conforto das nossas vidas.
(E que fogem tanto à nossa compreensão, como a ausência deste título nas nomeações dos Óscares para melhor filme)