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Em 1954, Akira Kurosawa trouxe ao grande ecrã a história dos “Sete Samurais”, quatro anos depois, num gesto muito pouco característico para a indústria da altura, Yul Brynner e Walter Mirisch decidiram refazer a história e torná-la num western, chamaram-lhe “Os Sete Magníficos”. Estamos em 2016 e é raro não ouvir falar de um remake, mas de vez em quando o formato resulta e pode devolver nova vida a um género que ultimamente só tem apanhado com o fardo referencial de Quentin Tarantino e alguns “directo-para-vídeo”.
“Os Sete Magníficos” conta a história de uma aldeia atormentada por Bartholomew Bogue, um empresário que não olha a meios para conseguir toda a riqueza natural da região e que controla tudo e todos com a ajuda de um grupo de capangas sanguinários. Num acto de desespero, a aldeia une toda a sua fortuna para contratar uma equipa de pistoleiros que lhes possa fazer frente. É nessa demanda que encontram Chisolm, a personagem de Denzel Washington, que acede ao pedido e os ajuda com um plano. Uma trama simples e uma fórmula quase infalível para um bom filme de aventura que não aspira a ser mais do que isso. Antoine Fuqua não se deixou levar pelas meta-referências ou o charme da desconstrução artística – duas coisas que são muito bem-vindas a espaços, mas que deixam de ter piada quando é a praticamente a única amostra de western que temos recebido nas salas de cinema desde o início do século.
O vilão é clássico e apetece odiar, podia ser mais carismático, quase me atrevo a dizer que vislumbrei um John Malkovich no lugar de Peter Sarsgaard, mas cumpre a sua função. O verdadeiro divertimento reside nas sete personagens titulares e na descoberta da personalidade de cada um, uma descoberta que se faz ao longo de todo o filme com intervenções bem medidas ao longo da trama e sem demasiado texto expositivo. As cenas de acção são espetacularmente bem coreografadas e (não sendo muitas) são elas próprias uma extensão das personagens, cada uma tem um estilo muito próprio e dá gosto ver/perceber o que se passa no ecrã sem ter de franzir os olhos com uma confusão de pixeis e explosões.
É também refrescante ver um Chris Pratt mais comedido, numa personagem que não tem resposta para tudo e que não assume o plano frontal, na verdade, à excepção da personagem de Denzel Washington, que estabelece a ponte entre os restantes membros da equipa, não se pode dizer que haja uma personagem principal e este é um dos raros exemplos em que o colectivo serve de personagem única. Vou só destacar de maneira negativa, mas não o suficiente para fazer mossa na experiência, a prestação de Vincent D’Onofrio. Pode não fazer confusão a quem não o conheça, mas quem tem vindo a prestar atenção aos últimos trabalhos do actor sabe que se está a aproximar perigosamente do terreno Nicholas Cage de dois mil em diante.
A banda sonora é brilhante. James Horner fez questão de manter o tema da versão de 1960 e bem, é talvez um dos temas a que mais associamos o género western, a par com o de Ennio Morricone para “O Bom, o Mau e o Vilão”. À semelhança da estrutura do filme, Horner apresenta-nos aos vários elementos do icónico tema de forma espaçada ao longo da descoberta das personagens. De vez em quando somos brindados com uma troca de elementos, como a percussão a tomar o lugar das cordas, mas quando o tema surge na sua versão original já transporta outra carga e a surpresa compensa a omissão desde o início. É um óptimo trabalho de despedida para o compositor que faleceu antes do filme ser sequer rodado.
Antoine Fuqua sabe que está a fazer um remake mas não inunda o filme com referências que caem de pára-quedas e deixam o espectador mais desatento sem perceber o que acabou de acontecer. As referências existem mas encaixam perfeitamente na história, são uns piscar de olho que não têm de ser vistos para apreciar duas das horas mais divertidas deste verão. Em suma, personagens divertidas, tiroteios à moda antiga com uma visão nova e um respeito pelo género western que já não se via há muito.