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Corria o ano de 1999 e Lock, Stock and Two Smoking Barrels chegou ao videoclube, numa vulgar cassete de vídeo. Foi como ver o 2001: Odisseia no Espaço pela primeira vez: um tipo de experiência cinematográfica nunca antes vivida, novidade em absoluto. E depois veio Snatch. E em apenas II Actos, Guy Ritchie tornava-se um dos mais promissores realizadores e argumentistas da sua geração.
O que se seguiu foi uma mão cheia de êxitos comerciais, de entre os quais, Jason Statham nos “Revolver”, “Rockn’Rolla” e Robert Downey Jr. e Jude Law a protagonizarem a sua adaptação de Sherlock Holmes. Apesar do sucesso de bilheteira, nenhum destes trabalhos me convenceu. Ritchie parecia estar constantemente a repetir a fórmula e as personagens, com roupagens e cenários diferentes. Ainda assim, em pleno dia de aniversário do realizador, fui cheia de boa vontade ver a sua versão cinematográfica da série homónima norte-americana da década de 1960: The Man from U.N.C.L.E. – adaptação esta que esteve para ser realizada por Steven Soderbergh.
Daqui para a frente, irei referir-me a este filme apenas como “UNCLE”, ok?
“UNCLE” é um filme de espionagem pura, num ano em que o género está a reconquistar fãs. O subversivo Kingsman, o antecipado regresso de James Bond (o sinistro “Spectre” estreia em Novembro) e o surpreendentemente bom Mission: Impossible – Rogue Nation, elevaram muito a fasquia e cumpriram onde este “UNCLE” falhou.
Decorre em plena década de 1960, em que espiões russos e norte-americanos se vêem obrigados a trabalhar em equipa, de modo a recuperar uma ogiva nuclear. Todo o filme decorre neste ambiente de swinging sixties (já temos saudades de Austin Powers!), em que o guarda-roupa recorre a todas as cores da paleta e as personagens vestem muitíssimo bem. Onde é que foram buscar tanto estilo?
Esteticamente, os espiões são o arquétipo do nosso imaginário colectivo. O espião russo é interpretado por Armie Hammer (os gémeos de The Social Network), um agente que carrega a vergonha de um pai exilado e que por sofrer de episódios psicóticos não se pode enervar muito, sob pena de se transformar no Hulk. Já Henry Cavill é o espião norte-americano, uma espécie de continuidade do seu papel como Superman. Pelo meio há alguém que trai os espiões e os entrega à tortura, a vilã charmosa e toda-poderosa, e Hugh Grant como líder da trupe.
De cena em cena, vamos assistindo à rivalidade entre os espiões sempre com um toque de leveza que pretendia ter alguma graça. Ou melhor: não compreendi o que é que Guy Ritchie pretendia com o tom com que impregnou o filme, se nos queria a rir com uma comédia ou a sorrir com uma pura sátira do género. Quanto a mim foi um tiro ao lado.
Aliás, a própria narrativa é construída de clichés. Perfeitos lugares-comuns, como as reviravoltas de lealdade e a quase aniquilação de uma das personagens principais. Mesmo no final do filme, testemunhamos o nascimento da U.N.C.L.E. – United Network Command for Law and Enforcement (spoiler!), o que poderá antever o desejo de sequela – ou não, lá está, poderá ser o tal tom satírico. Enfim, Guy Ritchie a tornar-se chato e previsível.
Tecnicamente, o filme está impecável. Bonitos planos e sequências de acção impecáveis (os espiões roçam as personagens dos comics), o dinamismo do cunho pessoal de Ritchie está presente. Que nos valha isso.
“UNCLE” não é um filme que eu recomende, excepto se mais nada estiver a dar na televisão, numa tarde em que esteja a chover muito e a internet lá de casa esteja em baixo. Aí sim, vale a pena.