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All that remains are memories. I remember a time of chaos, ruined dreams, this wasted land. But most of all, I remember the road warrior, the man we called Max.
{ Nota: texto escrito antes da estreia de Mad Max: Fury Road }
Trilogias.
Nunca outro artifício cinematográfico fora tão eficaz no enraizamento cultural popular. Exacerbado com a noção de ‘Saga’ (vide Harry Potter), são as trilogias que são unanimemente reconhecidas pelos diversos públicos, diversas faixas etárias e idades. Por baixo desse panteão já mitológico de Professores Jones, Xenomorfos e Skywalkers, temos uma submundo de trilogias de culto, onde também encontramos Peter Jackson, para além de Sam Raimi, Romero, Krzysztof Kieslowski, Park Chan-Wook e, claro, George Miller.
George Miller deu ao mundo, entre 1979 e 1985 o Magnum Opus da nova vaga australiana: a trilogia Mad Max.
Antes de ser um alcoólico anti-semita, Mel Gibson foi Max Rockatansky (que grande nome!), um polícia justo e honesto que tentava manter a ordem numa civilização perto do colapso, que após a sua queda, passou a vaguear o deserto pós-apocalíptico, tão destruído como o mundo por onde deambulava.
Embora totalmente distintos, os filmes unem-se pelo deserto niilista pós-apocalíptico (digamos que todos os recursos estilísticos que se usam num ambiente destes vieram da saga Mad Max); e também por acabarem todos com Max a resolver a situação, mas a acabar sozinho, perdendo tudo o que tinha.
Indo um a um:
1979: Mad Max – As Motos da Morte
(popularmente conhecido como “o das motas”)
Filmado quase sem orçamento, Mad Max conta-nos a história de um polícia sem medo e com muita habilidade ao volante que defronta um perigoso gangue de motoqueiros.
Pouco vemos do mundo, que percebemos que está perto do colapso; a civilização está suspensa por um fio, e homens corajosos como Max são o que separa a civilização do Caos. Max tenta afastar-se disso tudo após o gangue de Toecutter queimar vivo o seu melhor amigo, refugiando-se junto da praia com a sua mulher e filho. Mas os seus caminhos haviam de voltar a cruzar-se e as ‘motos da morte’ matam mesmo a sua mulher e o seu filho. E Max, sedento de ira e vingança, mata todo o gangue, com a ajuda do seu último dos V8 Interceptors.
Termina com a cena que alegadamente inspirou a série Saw, ao algemar Johnny the Boy a um carro que estava prestes a explodir, dando-lhe uma serra de modo a que ele pudesse serrar o próprio tornozelo de modo a sobreviver.
1981: Mad Max 2: O Guerreiro da Estrada
(popularmente conhecido como “o do puto com o bumerangue”, ou “pensava que esse é que era o primeiro”)
Naquele que é o avô de todo o imaginário pós-apocalíptico, Mad Max regressa desta vez num mundo já totalmente desprovido de civilização.
Max encontra uma pequena estância que produz petróleo no meio do deserto. O problema é que um gangue de bandidos sado-masoquistas crucificadores quer o petróleo para eles e cercam a estância. Embora relutante, Max acaba por concordar em ajudar os habitantes da estância, numa magnífica perseguição de um camião.
Tal como no primeiro filme, Miller tem o mérito de não se limitar a colocar elementos “com estilo” para nos dar apenas uma espécie de pornografia de elementos ‘Desert Punk’. Miller dá-nos humanidade aos personagens, implica que todos, não só Max, cuja história já conhecíamos, sofreram com perdas e vivem assombrados pelo passado, para além de terem que lidar com o mundo em que vivem.
O exemplo mais crasso disso é Humungus. O vilão principal é um bandido gigantesco mascarado com uma suspeita imunidade a escaldões e que lidera impiedosamente um gangue de violadores sado-masoquistas que se divertem a crucificar e a pilhar comunidades pelos seus recursos. No entanto, dá-lhes a oportunidade de fugirem sem que haja sangue derramado (poderá ser bluff, claro), mostra alguma eloquência, e, principalmente, tem um discurso sobre “todos perdemos alguém que amávamos”, e guarda numa caixa com a sua Magnum, uma fotografia de alguém supostamente querido (pais? mulher?).
1985: Mad Max 3: Além da Cúpula do Trovão
(popularmente conhecido como “o da Tina Turner”)
Já mais à frente no tempo, Max encontra os primeiros traços de civilização; uma cidade onde se faz comércio (Barter Town), há energia produzida a partir do metano de m**** de porco, e a justiça é feita via combate até à morte dentro da epónima “cúpula do trovão” (Two men enter. One man leaves).
Depois de se desentender com a líder dessa comunidade (Tina Turner), Max é exilado para o meio do deserto, mas é encontrado por uma tribo de crianças que sobreviveram a um desastre de avião. Após assentar no Oásis onde vivem, alguns deles decidem fugir para encontrar terras profetizadas. Max vai em apoio deles, e sem mantimentos, acabam por ter que voltar a Barter Town. E, claro, há uma perseguição.
Embora mais confuso e menos adulto que os outros dois filmes (já li por aí quem comparasse a tribo de crianças aos Ewoks), este filme não deixa de ser envolvente, devido ao criativo embora desolado universo que cria, bastante mais grotesco que nos anteriores.
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Revê-los hoje não retira quase nada da sua espetacularidade: os efeitos são práticos e não digitais, os elementos são sempre interessantes, faz um bom uso de geringonças improvisadas, e os desertos australianos não vão perder o valor visual com o tempo. As perseguições e o uso de duplos são do melhor que já alguma vez se fez (dou ênfase ao primeiro filme, por causa do baixo orçamento), e tecnicamente tem uma fotografia e montagem de fazer inveja a muitas grandes produções.
Para além disso, esta é uma trilogia com uma forte carga emocional, que ainda hoje se mantém forte; quantas vezes vemos a mulher e a criança do herói serem mortos (depois de os conhecermos)? Ou pior ainda: quantas vezes vemos um cão não sobreviver a um filme? Max perde dois!
Mad Max também nos dá esse valor nostálgico. Foi feito numa era em que os filmes eram sítios duros para os nossos heróis. Os personagens de Kurt Russels, Charles Bronsons ou mesmo Schwarzennegers tinham que sobreviver a mundos-cão, onde ninguém era de confiança e os maus assombravam os fracos.
É sempre bom ver Max, assombrado pelas suas perdas, com o espírito destruído pela perda de tudo o que lhe era querido, a sobreviver no desolado futuro pós nuclear em que se viu. Porque nos faz lembrar esses tempos, onde os heróis acabavam os filmes com cicatrizes na cara, em vez dos bonitões que se pavoneiam por cidades esterilizadas, nos ecrãs dos heróis hodiernos. Ou, pondo doutra forma: «All that remains are memories. I remember a time of chaos, ruined dreams, this wasted land. But most of all, I remember the road warrior, the man we called Max.»
Artigo de Luís Sá
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)