Alcest

Les Chants de l'Aurore
2024 | Nuclear Blast | Blackgaze, Pós-metal

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O sétimo álbum do culpado. Não foi ele que estragou o black metal ao torná-lo bonitinho, ou lá como reza a lenda? É a ele que temos que cobrar por andarmos agora a usar um termo como “blackgaze,” não é. Se fossemos desse lado, se tivéssemos dessa tinha e se não estivéssemos ainda a aclamar as obras-primas, – e a aceitar o “Shelter,” também – até podíamos estar com essa atitude. Mas está longe de ser o caso, a expectativa era alta e “Les Chants de l’Aurore” se não é o melhor disco de Alcest da trilogia pós-Shelter, ou o melhor desde o “Écailles de Lune,” ou só o melhor, não deve andar muito longe.

Claro que é um disparate chamar assim só “black metal” à música criada por Neige, mas claro que existe bastante disso na sua receita. E é coisa que associamos logo a frio, noite, breu, chuva onde não der para haver neve. Mas o lusco-fusco, o nascer do Sol retratado neste disco é bem solarengo. “Komorebi” é um interessante termo Japonês que se refere à luz solar a irradiar por entre a folhagem das árvores. E não é que a faixa com esse nome, que abre as hostes, soa exactamente a isso. E é tudo muito agradável, a emoção com que Neige canta “L’Envol” reforça muito a beleza e delicadeza que existe na música de Alcest – palavrões, bem sabemos. Mas uma madrugada ainda é fresca e sente-se o frio do nevoeiro e um possível orvalho quando entra “Améthyste,” quando a parte mais extrema da música de Alcest começa a espreitar. Um casaquinho até se recomenda, fininho, como o de black metal que reveste o indie/pós-punk revivalista que muita banda andava a tentar fazer na primeira metade dos 00’s, em “Flamme Jumelle.”

Questiona-se a utilidade do interlúdio ao piano “Réminiscence” mas, com as fantásticas “L’Enfant de la Lune” e “L’Adieu” só se questiona se a parte extrema ficou mais extrema ainda. No entanto, coesão acima de tudo, que Alcest faz álbuns, conta-nos estórias, leva-nos a viagens e acompanha-nos ao longo de uma manhã. Pelo fim, o Sol já estará um pouquinho mais alto, mas vale a pena aturar mais um dia inteiro, até à madrugada seguinte, se for nestes termos. Se ali pela altura do “Les Voyages de l’Âme,” muitos de nós assumimos, erroneamente, que Neige já tinha gasto os truques todos do seu saco, o músico Francês continua a provar o quão errada estava essa ideia, com mais um álbum tão diferente, mas tão inconfundivelmente Alcest. O problema do blackgaze, na verdade, é já existir em fartote e não chegar a isto.

Músicas em destaque:

Komorebi, Améthyste, L’Enfant de la Lune

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sobre o autor

Christopher Monteiro

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