Há Halloween todos os anos e já quase que temos os Bloody Hammers com a mesma frequência. Só que em alturas do ano diferentes. E com um “Songs of Unspeakable Terror” a parecer, por vezes, um disco marginal, daquelas obras pandémicas, “Washed in the Blood” volta a não deixar chegar à marca dos dois anos de espera para retomar a normalidade. Que é palavreado ainda muito usado actualmente, mas aqui é referente mesmo à música dos Bloody Hammers.

Não houve nenhuma mudança radical, sejamos sinceros, não se fale aqui como se tivesse havido algum choque. Os Bloody Hammers, sem serem uma explosão de originalidade, já têm o seu estilo mais que definido e estava lá tudo. Só que deixaram o rock ocultista e o doom metal mais soturno para o background e trouxeram um punk mais enérgico à frente. Preferiram uma homenagem aos Misfits, para variar de tributos aos Black Sabbath. O refrão pegajoso estava lá na mesma e a falsa acessibilidade nos temas de colar ao ouvido a não esconder os temas mais macabros também – aqui a dupla de Anders Manga e Devallia ainda não são propriamente os Ghost, mas também bebem de uma fonte de ironia semelhante. E agora, para “Washed in the Blood” procura-se o balanço. Regressa aquela fórmula de “doom alegre” que impressionou quando apareceram e que foi aperfeiçoada em “Lovely Sort of Death” e “The Summoning” mas há um passo acelerado e um outro veneno mais juvenil na mesma. E o riff de “And Soon the Darkness” tem mesmo momentos de fazer lembrar o da “A Night to Dismember.”

Não são uns Bloody Hammers indecisos. Já sabem por onde se mexer para que as suas canções possam ter alguma roupagem diferente. Canta-se, novamente, muita música daqui e ainda não desvaneceu o fumo setentista ou a aura gótica contida – aqui “Last Rites of Lucifer” e “Don’t Be Afraid of the Dark” podem bem ser das coisas mais “gógó” que já fizeram. É contra a sua própria simplicidade, brevidade e familiaridade que batalha para se desviar do que realmente pode vir a ser um problema para os Bloody Hammers: editar um álbum genérico. A fonte de ideias para melodias ainda não se esgotou, mas “Washed in the Blood” pode ser o primeiro disco que nos deixa atentos ao futuro da dupla: irão dispersar para a banalidade e piloto automático?