Bruce Dickinson

The Mandrake Project
2024 | BMG Records | Heavy metal

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É uma grande voz mas que já não pode soar exactamente igual que há umas décadas atrás e é uma lendária banda que já tem os clássicos feitos. Os Iron Maiden, sim. Mas continuam a lançar grandes discos e Bruce Dickinson ainda canta demasiado para um sexagenário que já superou um cancro na garganta. E “The Mandrake Project” já é uma surpresa só por existir. Poucos discos de Bruce a solo aconteceram enquanto estava nos Iron Maiden, com algumas das suas maiores obras em nome próprio a acontecer naquele hiato que fez da banda. E fica-se assim sem saber muito bem o que esperar.

Quem já conhece os trabalhos a solo de Bruce já vem treinado para aquela maldição que alguém traz quando se torna muito grande mas associado a alguma coisa. Ouvimos a voz de Bruce, ouvimos Maiden. Que diferença existirá aqui? Imensa porque o resto do conjunto é igualmente importante e a identidade inconfundível dos Iron Maiden está em todos os instrumentos. Uns segundos de “The Mandrake Project” chegam para confirmar que isto nada tem a ver com a mítica banda. O início de falso doom de “Afterglow of Ragnarok” é a primeira pista e o resto do disco assenta-se no peso bem carregado e com bem mais groove do que nos Iron Maiden, mas também vai mais ao hard rock, como no seu “Balls to Picasso.” Mas, em muita coisa, também dá para recuar ainda mais no tempo, dá. E não é aos Iron Maiden. É aos Samson, mesmo.

Canções do calibre de “Many Doors to Hell” ou “Rain on the Graves” sugerem uma submissão total ao hard rock mais simples e talvez todas as canções fossem por aí, se não desfilassem mais influências. Algumas surpreendentes e até bizarras. Somos atirados para o meio de um spaghetti western e enfrentamos uma cowboyada em “Resurrection Man,” atravessamos o globo para buscar a influência oriental de “Fingers in the Wounds” e até há mesmo sequelas de Maiden com a tão grandiosa e cinemática “Eternity Has Failed.” E, tal como na banda que está a ser tão inevitavelmente namedropped aqui, não se resiste ao progressivo e é essa a chave que fecha, em “Shadow of the Gods” e “Sonata (Immortal Beloved).” Podiam ser colagens de influências exteriores em canções que seriam genéricas e simplistas mas, mesmo que existam temas com menos força que outros, são essas as canções com mais personalidade e de maior destaque que fazem “The Mandrake Project” valer a pena como mais do que um projecto de vaidade do eterno vocalista dos Iron Maiden. Tem as comparações com o novo álbum de Blaze Bayley ali à mão – esse saiu uma semanita antes, só – e uma produção a deixar algo a desejar. Mas tem pontos de compensação para enriquecer a experiência e lembrar que Bruce Dickinson a solo não é só um passatempo para entreter enquanto esperamos que traga os colegas do costume e o Eddie para partir tudo.

Músicas em destaque:

Afterglow of Ragnarok, Resurrection Man, Eternity Has Failed

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Iron Maiden, Samson. Aqui é fácil fazer batota.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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