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Há muito no nosso sempre injustiçado underground. No presente, no passado e no futuro. No lote que deixava já saudades encontram-se, por entre tantos outros exemplos, os MOSH. Já uns bons anos depois de sentirmos a sua falta, o vocalista Pedro Lima não se dá parado e, encarnando o introspectivo e emocional Pete Miles, traz os Dark Miles e guia-nos ao longo destas “10 Miles into the Dark,” deixando para trás a rockalhada orientada a riff grosseiro de barba rija da sua antiga banda.
Mas o que traz é uma caixa de surpresas. Pela forma como brinca entre variados estilos musicais – em todos olha ao passado, às suas referências – mantendo um fio condutor, pela sua capacidade de escrita de canções, pelo ambiente tão familiar que aqui se instala. Dark Miles pode muito bem ser uma compilação de êxitos que ainda não aconteceram, dada a força e potencial de cada uma das canções. E não é só debitar melodias giras, que ficam no ouvido, é também enchê-la de emoções, dar o seu essencial cunho pessoal, mas de forma a que qualquer um se relacione e se reveja. Isto não é música feita em vão ou um projecto de vaidade. É como se Pete Miles, no seu ainda esperançoso pessimismo e no escape à raiva pelo estado do mundo em que o rodeia, lamente as canções que faltem na sua colecção de discos e decida arregaçar as mangas e fazê-las ele próprio.
Há muita referência, sim, mas não é daquela que se aponte logo. “Está é isto, e esta é aquilo.” Não dá para fazer esse jogo, que o cunho Dark Miles foi muito rapidamente injectado. E recua às décadas de 80 e 90. Não de forma linear, mas abre com uma “Your Heart Is an Empty Street” cheia de pós-punk dos 80s, antes de passar para a bem emocional “When the Lights Go Out” antes de ficar mais voltado para um rock alternativo dos 90s. A omnipresença de Depeche Mode aqui, também acaba por ter nos seus mais sombrios “Songs of Faith and Devotion” e “Ultra” maior referência. Canções desse rock “noventista” que até deixa entrar umas modernidades, como “Running in Circles” ou “The Waiting” até nos fazem desejar que os Smashing Pumpkins andassem a fazer disto em vez daquelas salganhadas a agradar ao ego do Billy Corgan e pouco mais; uma “Nothing Left to Feel” com um acompanhamento de pós-punk revivalista numa canção de rock grandioso, que mostra que cabe um estádio no coração enegrecido de Miles; e digam lá se em “One Last Goodbye” o Miles não invoca o seu melhor Chris Cornell numa canção que, ao começar, até parecia que trazia algum gatilho à depressão dos Radiohead de antigamente. E com isso tudo, se calhar até se safa bem como apenas um álbum de rock sem muitos prefixos ou sufixos que o façam pesar muito. Mesmo brincando com a música ambiente na longa conclusão a lembrar que isso de andar milhas pela escuridão dentro deve assustar um bocadinho e ainda estava tudo muito agradável. E lá vamos nós outra vez, pelo breu dentro. E Dark Miles tem que seguir por aí acima, que não se justifica que permaneça como um segredo bem guardado.
Your Heart Is an Empty Street, When the Lights Go Out, Dear Enemy
Depeche Mode, Peter Murphy, Stone Temple Pilots