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Malditos cashgrabs. Gostamos sempre de prestar homenagens aos heróicos defuntos da música e outros entretenimentos, mas chateia quando vemos tanto lançamento despropositado, mais um disco ao vivo perdido, mais uma compilação de sobras, dignas ou não, mais uma desculpa para vender à custa de um grande nome que já não está entre nós para nos dar algo realmente novo para desfrutar. David Bowie também já partiu, deixou um enorme legado, e também não se safa desse tratamento. Mas façamos um “double take” a este “Toy.” E não é só pelo raio da capa que lhe foram desencantar, é mesmo para ver o seu propósito: este é mesmo um álbum de Bowie, dito digno, no qual já trabalhara há uns bons anos e do qual apenas havia algumas canções espalhadas, com produções e misturas diferentes.
Então situemos “Toy” devidamente, mesmo que não seja um disco de novidades agora desenterradas. Pertence, na verdade, a uma gravação de temas antigos, – uma boa parte inicial do disco contém temas aos quais têm que recuar até à década de 60 e aos primórdios da escrita de canções de Bowie – que Bowie recuperou para lançar aí por 2001, não fosse uma editora à beira da falência a colocá-lo na prateleira. Leaks online, uma música ou outra que foge para b-sides e compilações diferentes e até a inserção numa “box set” de raridades, e esta nem é a primeira vez que “Toy” vê a luz do dia. Mas é quando chega mesmo para o ouvirmos como um álbum convencional, e onde podemos confirmar se afinal é uma junção desconexa e aleatória de canções espalhadas por aí. Não, “Toy” soa bem à sua própria justificação e é realmente um disco coeso, sem se tentar tornar maior que o que realmente é.
Há sons datados por aqui. Mas nem é de um jovem Bowie, visto serem regravações trabalhadas ali pela transição do milénio. E é para aí que nos transporta verdadeiramente, com muita sonoridade remetente ainda à música alternativa da década de 90 e tratamentos que realmente situem “Toy” entre os seus pretendidos contemporâneos – já se despe mais da edge industrial de “Earthlings,” andando mais próximo da artsy britpop de “Hours” com alguns experimentalismos mais adultos que tomaram lugar principal em “Heathens,” álbum trabalhado assim que “Toy” ficou no baú, algo especialmente notado em serenas baladas como “Conversation Piece” ou “Shadow Man.” “You’ve Got a Habit of Leaving,” “Karma Man,” ou “Let Me Sleep Beside You” comprovam que o sentido melódico esteve sempre presente nos talentos de escrita de Bowie e também verão muitos a dar louvores à performance vocal do nosso camaleão favorito. Um álbum agradável a fazer-se valer a pena, até para quem já conhecia estas canções. Não é o sucessor de alguma coisa ou o retomar de uma discografia. “Blackstar” foi o perfeito canto do cisne já imortalizado. “Toy” serve, pelo menos, para se justificar como um lançamento póstumo e fazer-se desfrutar por umas quantas audições. Desde que não olhemos muito para aquela capa.
You’ve Got a Habit of Leaving, Karma Man, Shadow Man
Felizmente, o bom que Bowie foi fazendo.