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Um título aparentemente tão actual como “Lonely People with Power” poderia já dar muito que falar. Mas nem precisa, tratando-se dos Deafheaven. Das bandas mais polarizadoras destas últimas décadas. Estão de volta com um novo disco enigmático, uma capa aparentemente dissonante – tipo Sacred Son, mas sério? – e escudos prontos para qualquer tipo de reacção. Está aberta a época do debate entre “são a melhor cena de qualquer cena” e “execução é eticamente ponderável como punição pelo que eles fazem.” Exagero, mas é dessa forma que os Deafheaven movem paixões. Com eles, parece que é 8 ou 80.
Quanto ao serem black metal ou não, será a mais impertinente e irrelevante das questões. Nem consta que andem por aí a jurar a pés juntos que o são. Pode haver sempre a sua presença, mas foi no anterior “Infinite Granite” que pareceram menos importados ainda: deixaram-no totalmente de parte e lançaram o seu disco de shoegaze e pós-rock, sem apetrechos extremos. O seu “Shelter,” se assim lhe quiserem chamar. Esse disco tornou-se ainda mais curioso em retrospectiva, com a chegada deste novo “Lonely People with Power.” Talvez tenha sido uma filtragem. Uma separação. Experimentar tratar uma coisa de cada vez. Porque este álbum é o “yin” para o “yang” que foi o seu antecessor. Aqui então, os mais sensíveis devem parar de ler, para não ficarem chocados. É que neste disco, sim, já existe bastante black metal. Sujeita-se a ser o seu mais pesado desde o “Sunbather,” obra que lhes trouxe tanta glória quanto infâmia.
É o álbum a que esta novidade mais se assemelha. O balanço entre o peso e a atmosfera é mais cuidado. A estrutura de “Doberman,” com uma introdução e um interlúdio mais indie, mais dream pop, a abrir as águas para a passagem da agressividade do resto da canção, ou a do pós-punk invadido e envenenado de “Heathen” são boas formas de resumir todo o disco. Há momentos leves e ambientais, há. Há esquisitices, pois claro que há – a lista de convidados, com voz de Jae Matthews dos Boy Harsher e uma narração de Paul Banks dos Interpol é que até pode parecer improvável só por ser. Mas também há muito peso. Há riffs agressivos. Há blastbeats como os de “Magnolia” ou “Revelator,” que eles se calhar nem deviam ter autorização para usar. Há uma voz rasgada e arrepiante. Há muito de black metal atmosférico que anda agora a regressar à ribalta. Vamos cometer o total sacrilégio e encontrar aqui comparações aos nossos Gaerea? Vamos. “Lonely People with Power” é um disco surpreendente, há muita coisa a encontrar-se no meio deste caos, que nem é assim tão improvável. Pode enfraquecer um pouco com a sua longa duração, que faz com que pormenores se dispersem e fique a parecer mais uniforme que o que realmente é, mas a cada nova audição amadurece. E a identidade Deafheaven, os mesmos que fizeram o “Infinite Granite” está lá, mesmo que também se ouçam por aqui das suas passagens mais Alcest. Com caras de mau a dizer que sabem fazer isto com agressividade e veneno. Se é mesmo black metal? Estão bem mais importados com rótulos e inserções do que eles, definitivamente.
Doberman, Magnolia, Amethyst
Alcest, Harakiri for the Sky, Altar of Plagues