Depeche Mode

Memento Mori
2023 | Columbia Records, Mute Records | Synthpop, Rock alternativo/industrial

Partilha com os teus amigos

O luto é sempre marcante. Os Depeche Mode, fundados como um quarteto, chegam agora reduzidos a dupla e inevitavelmente introspectivos, com um “Memento Mori” a não conseguir evitar ser uma sentida homenagem a Andy Fletcher. Resta o núcleo da banda e usa este novo clima para um dos seus mais soturnos álbuns de uma riquíssima discografia.

Mortalidade sempre fez parte do léxico musical dos Depeche Mode. Dave Gahan também já andou a olhá-la de perto e a desafiá-la, o que motivou o que talvez ainda será o seu mais escuro álbum “Ultra.” Aqui é diferente, é mesmo aquele acordar para a realidade de que ninguém caminha para novo, tudo à nossa volta muda, e pessoas próximas também começam a desaparecer. Como isso funcione variará, mas à dupla de Gahan e Gore despiu-os de pressões: não procuram modas nem precisam delas para singrar, encontram variedade e surpresas sem uma incessante busca pelo experimentalismo, não procuram êxitos. E saiu o melhor disco em anos. Com tanto de familiar, como de surpreendente. Retrocedem às suas próprias origens, com a electrónica de “Wagging Tongue” ou “People Are Good” a remeter mesmo aos Kraftwerk, a um retocar do seu contemporâneo, com “Ghosts Again” e “My Favourite Stranger” a sugerir-nos como soaria o “Music for the Masses” hoje em dia e “Don’t Say You Love Me” a fazer-nos pensar numa realidade em que os INXS seriam industriais; e afogam-se em melancolia em “Speak to Me,” dificultam-nos a brincadeira das descrições e referências com “Caroline’s Monkey” e até há um esgar sinistro à Nine Inch Nails em “My Cosmos Is Mine.

Deixaram as politiquices de “Spirit” de lado. O olhar aqui é interno. Para eles próprios e para nós próprios assim que isto passa para nós. A riqueza vai além da sua variedade, é também na simples eficácia dos temas que está aqui um grande conjunto de canções e não parece ser agora, ao chegarem a sexagenários e reduzidos a dupla, que os Depeche Mode pretendem parar de reinar tudo o que seja à volta de sensualidade mais perturbadora ou escuridão dançável. Ainda não é desta que aparece um raio de um mau disco entre os quinze do seu repertório!

Músicas em destaque:

My Cosmos Is Mine, My Favourite Stranger, Caroline’s Monkey

És capaz de gostar também de:

Depeche Mode do “Songs of Faith and Devotion” e “Ultra”


sobre o autor

Christopher Monteiro

Partilha com os teus amigos