//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
O luto é sempre marcante. Os Depeche Mode, fundados como um quarteto, chegam agora reduzidos a dupla e inevitavelmente introspectivos, com um “Memento Mori” a não conseguir evitar ser uma sentida homenagem a Andy Fletcher. Resta o núcleo da banda e usa este novo clima para um dos seus mais soturnos álbuns de uma riquíssima discografia.
Mortalidade sempre fez parte do léxico musical dos Depeche Mode. Dave Gahan também já andou a olhá-la de perto e a desafiá-la, o que motivou o que talvez ainda será o seu mais escuro álbum “Ultra.” Aqui é diferente, é mesmo aquele acordar para a realidade de que ninguém caminha para novo, tudo à nossa volta muda, e pessoas próximas também começam a desaparecer. Como isso funcione variará, mas à dupla de Gahan e Gore despiu-os de pressões: não procuram modas nem precisam delas para singrar, encontram variedade e surpresas sem uma incessante busca pelo experimentalismo, não procuram êxitos. E saiu o melhor disco em anos. Com tanto de familiar, como de surpreendente. Retrocedem às suas próprias origens, com a electrónica de “Wagging Tongue” ou “People Are Good” a remeter mesmo aos Kraftwerk, a um retocar do seu contemporâneo, com “Ghosts Again” e “My Favourite Stranger” a sugerir-nos como soaria o “Music for the Masses” hoje em dia e “Don’t Say You Love Me” a fazer-nos pensar numa realidade em que os INXS seriam industriais; e afogam-se em melancolia em “Speak to Me,” dificultam-nos a brincadeira das descrições e referências com “Caroline’s Monkey” e até há um esgar sinistro à Nine Inch Nails em “My Cosmos Is Mine.”
Deixaram as politiquices de “Spirit” de lado. O olhar aqui é interno. Para eles próprios e para nós próprios assim que isto passa para nós. A riqueza vai além da sua variedade, é também na simples eficácia dos temas que está aqui um grande conjunto de canções e não parece ser agora, ao chegarem a sexagenários e reduzidos a dupla, que os Depeche Mode pretendem parar de reinar tudo o que seja à volta de sensualidade mais perturbadora ou escuridão dançável. Ainda não é desta que aparece um raio de um mau disco entre os quinze do seu repertório!
My Cosmos Is Mine, My Favourite Stranger, Caroline’s Monkey
Depeche Mode do “Songs of Faith and Devotion” e “Ultra”