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Já não se recria aquela parte tão fatela do heavy metal tradicional melódico sem ser com algum throwback demasiado tongue-in-cheek para não se transformar logo em paródia. Não é tão genuíno e valham-nos os clássicos. Discos cheios de malhas e qualidade, e videoclipes tão embaraçosos que se tornam épicos. Podíamos estar a falar exclusivamente dos Dokken, se não fossem eles tantos na década de 80. “Heaven Comes Down” é o novo álbum do conjunto de Don Dokken, a completar uns sortudos treze e aponta para o seu público mais fácil de agradar.
“Heaven Comes Down” deixa-nos aquela pressão de lhe mostrarmos uma certa apreciação dadas as circunstâncias e o estado em que o nome Dokken chega a 2023. Como se não quiséssemos estar apenas a aplaudir por pena ou aquela aclamação por simplesmente o terem conseguido fazer. Falamos, afinal, de uns Dokken sem membros originais além do próprio Don Dokken, cuja doença o impediu de tocar guitarra e a quem o tempo também já levou a maior parte da voz. É como se fosse uma fracção de Dokken que aqui está. Mas não queremos desprezar isto, porque o “Breaking the Chains,” o “Tooth and Nail” e o “Under Lock and Key” são grandes álbuns de luxo no panorama pesado melódico dos 80s, de quasi-glam, se assim lhe quisermos chamar só para os distinguir dos outros “butt rockers” todos, e por ser o primeiro álbum em mais de dez anos. Mas ouvir Dokken, ou outra música qualquer, por solidariedade ou, ainda pior, por pena, é que não.
Mas ao darmos a chance e ouvirmos este “Heaven Comes Down” de título intencionalmente referencial ou pouco criativo, – “When Heaven Comes Down” já era um tema do “Tooth and Nail” – já percebemos que afinal há aqui vida, a coisa não está assim tão má. Não está má sequer. Os músicos que rodeiam Dokken são de imensa qualidade, afinal, e não deve haver qualquer surpresa em relação ao excelente trabalho de guitarra, quando Jon Levin até já lá está há vinte anos. Don Dokken canta como pode mas canta temas suficientemente interessantes para nos fazer querer cantar com ele. Não para o ajudar, mas porque tem melodias a puxá-lo. Não deixa de ser a guitarra de Levin que mais se destaca, quer nos acompanhamentos à Scorpions de “Fugitive,” um emotivo solo que salva a balada “I’ll Never Give Up” ou num interessante riff de “Saving Grace,” que por acaso nos obriga a um esforço para fintar qualquer referência à “Kashmir” mas é muito difícil. Mais “hard” do que “heavy,” menos memorável que os clássicos, mais coeso e bem conseguido que o esperado. Não serve de muito estar com aquela presunção de que é o melhor desde o tal disco de não-sei-quando, mas até que nos dá conforto para arriscar dizer que é melhor que quase tudo que tenha vindo depois da reunião dos anos 90. Nunca um álbum tão meramente satisfatório realmente satisfez assim tanto.
Fugitive, Gypsy, Saving Grace
Scorpions, Quiet Riot, Great White