Oremos. Que, no final do ano, a disposição é festiva, a época é santa! Como é que se podia fazer disso sem os Filii Nigrantium Infernalium, das maiores instituições de música extrema – e tresloucada, com classe – cá por nossas terras. Que lembram, com esta “Pérfida Contracção do Aço” que estavam lá quando essa brincadeira do black metal foi inicialmente importada para cá, ainda uma criança, e estão cá hoje quando já tomou todas as formas e mais algumas.

Já ouvimos a categoria do disco só de lhe olhar para a fantástica capa. Como já tinha acontecido quando tomámos a anterior “Hóstia.” Algo que nos enche o olho antes de nos invadir o ouvido. E com quê? Com black metal de raíz, mais influenciado pela abrangente “first wave,” com riffs fortes com tanto de clássico como de mais contemporâneo e umas lindíssimas letras prontas para levar para as janeiras. Recorrendo aqui à repetição, estavam lá quando tudo começou e antes de parecerem querer “impor” regras neste metal mais extremo, eles sabem exactamente a quais truques recorrer e como modernizar o som sem largar a origem. Sem polir ou embelezar coisas que se querem assim tão imundas, sem tornar isto cru só para ser cru.

É barulho bem tratado e produzido. As agradáveis blasfémias não precisam de um instrumental caótico, quando muito é assente nas vertentes mais clássicas do heavy e do thrash. De tempos em que a separação de equipas da música extrema não era assim tão linear. “Pérfida Contracção do Aço” também é um disco veloz sem, por isso, também ser uniforme e é capaz de causar efeito quando abranda – “Comes Carne,” por exemplo, até começa a paulada de forma mais lenta antes de abrir a cancela para deixar sair os demónios todos a correr. É tudo Filii no seu mais Filii, guardando algumas surpresas como as que se encontram em “Vaticanale” que a tornam épica – se pudermos aqui dizer umas asneirolas dessas, que não sejam da categoria das que também abundam por aqui. Mais um grande disco de uma das grandes entidades, parte de algum Hall of Fame badalhoco que tenhamos por cá, um rico banho de água benta que aqui temos. Ou de “Chuva Dourada,” já que é assim que fecha esta missa.