Full of Hell

Weeping Choir
2019 | Relapse Records | Grindcore, Powerviolence

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Não dá para nos esquecermos dos Full of Hell. Além de uma assídua regularidade discográfica, pelo meio há os EPs e os splits com monstros tão assustadores como eles. E as mossas e pisaduras que vêm do enxerto que é o disco anterior ainda levam o seu tempo a sarar e mal deu para recuperar ainda o fôlego. “Weeping Choir” é outra razão para não nos esquecermos deles: é mais um disco daqueles ao qual não dá para ficar indiferente.

Aventureiros como sempre foram, os Full of Hell continuam a expandir o leque de influências que qualquer outro imaginaria que não coubesse dentro de um género tão despachado e até limitado como o grindcore. E já vão além das inserções de noise à Merzbow, com quem já travaram amizade, trabalharam e aprenderam a brincar com o kit. É óbvio que essas passagens também estão lá, mesmo a escarrar na cara de quem já estaria a chamar “barulho” àquilo antes de entrar a ruideira distorcida e o feedback de uma “Rainbow Coil” a meter medo. É o disco com mais death metal a tomar as rédeas, como “Burning Myrrh” tão violentamente nos faz saber logo de imediato e com uma “Silmaril” a quase voltar-se para o slam. E mesmo continuando nas suas descargas de minuto-e-pico como já se espera, mantendo o habitual basqueiro, até há por vezes alguma estrutura mais “convencional” de hardcore, que remonta a uns obviamente influentes Converge.

Mas são os experimentalismos mais selvagens e incomparáveis a outras coisas que levam a taça para casa. “Armory of Obsidian Glass” no alto dos seus penosos sete minutos será a faixa mais medonha do ano e uma das mais impressionantes peças de música extrema dos últimos tempos, com uma sessão de tortura no seu sludge arrastado, ruidoso e pulverizado da mais rude música industrial. Ficamos de queixo caído sem perceber o que se passou, nunca vamos saber mas queremos voltar que nem os doentes que somos. E “Angels Gather Here” até é capaz de fazer uns contemporâneos The Body – também já bem conhecidos deles – ou uns Gnaw dar um passo atrás, com o susto da tenebrosa electrónica que lhe dá ambiente. É isso que se deve salientar. Os Full of Hell podiam usar estes 25 minutos apenas para descarregar umas quantas malhas ultra-rápidas, uma sova bem assente e já eram um grindcore competente a satisfazer o gosto por violência de muitos. Mas não se ficam por aí e evoluem no experimentalismo, no ambiente, nas estruturas, nas influências, até na performance vocal. E, qual bicho mutante num laboratório, não dá para saber como estará daqui a um tempo se continuar a crescer assim…

Músicas em destaque:

Burning Myrrh, Armory of Obsidian Glass, Angels Gather Here

És capaz de gostar também de:

The Body, Nails, Brutal Truth


sobre o autor

Christopher Monteiro

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