Será que já chegou aquela altura em que temos novamente que nos conformar? É que parece que os Gaerea também já não são nossos. É tão bom vê-los a crescer e a fazer-se ao mundo. Mas num instante, realmente o mundo toma-os e assistimos a uns gigantes. Um mundo por onde também andam uns tais Moonspell. São coisas ditas de bom grado, “Mirage” era um disco antecipado pelo mundo inteiro que goste de música extrema com tanto de violência como de ambição.

E não engana, na medida em que é um seguidor directo de “Limbo,” sem se deixar tornar previsível por isso. Que os Gaerea já tenham, simplesmente, encontrado muitas nuances que os tornem distinguíveis, as tais coisas “à Gaerea,” não fecham a porta a novidades, mesmo que as mantenham subtis. Tudo em “Mirage” é comparável ao seu antecessor, mas com uma entrada tão potente como “Memoir” que nem nos deixa pensar nisso. Não nos deixa pensar em nada. Sempre a preferir o denso, catártico e intenso ao meramente cru, afastam-se de muitos pretensiosismos presentes no black metal, sem medo de o engrandecer – como se notássemos realmente algo de épico a passar-se no meio daquele negrume todo.

Os riffs voltam a ser protagonistas, não dispensando um tremolo a fazer baixar as temperaturas e a casar com os blastbeats para que se exclame que isto é black metal ainda como manda a lei, mas também capaz de os intensificar e fazê-los chegar à frente num paredão sonoro que não deve ao death metal ou, quando não têm pressas, a um medonho e intimidante doom. Também sabem como explorar a vertente melódica sem ganhar tiques que faz alguns congéneres escorregar. É uma viagem turbulenta mas consistente, mesmo que seja nos pólos que encontre os seus pontos mais altos: a violência de “Memoir” introduz-nos às bizarras trevas por onde andaremos na seguinte hora e “Laude” retira-nos de lá com uma sensação de triunfo. Que é aquilo que os Gaerea podem celebrar, sucedendo novamente na apresentação de um disco que sabe onde se localiza mas não se conforma. O black metal está bem entregue aqui neste cantinho da Europa. E o mundo já o sabe e aguarda a intensidade que venha a seguir.