Gary Numan

Intruder
2021 | Numan Music, BMG | Electrónica, Industrial, Synthpop, Darkwave

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É uma pena que Gary Numan não seja propriamente um nome que venha à baila, com regularidade, fora dos circuitos dedicados aos clássicos e “oldies.” Uma tremenda carreira a abranger mais de quatro décadas, depois dos seus Tubeway Army, e mesmo já tendo influenciado meio mundo, parece que ainda tem que lutar com o estatuto de “one hit wonder.

E não vamos tirar crédito nessa parte. “Cars” é mesmo um tema fantástico e uma das melhores canções do synthpop da década de 80 – lançada em 1979, sim – e até de sempre. Mas não deve ofuscar a muito frutífera carreira de Numan e a sua impressionante capacidade de reinvenção. Mesmo que se defina mais como um pioneiro nos seus velhos tempos, manteve uma carreira sólida adaptando-se aos tempos, sempre à sua maneira. Pela altura em que os 80s e a sua New Wave já se tinham concluído e Numan estava cansado de tentar fazer pop, pegou no que já sabia fazer mais “dark” e escureceu a sua música de vez, virando-se mais para o industrial e até para o gótico, num intercâmbio de influências com os Nine Inch Nails. Desde então foi sempre essa a sua principal veia, mantinha-se na electrónica, mas na mais cortante. Claro que não seria por aí que recuperaria sucesso comercial, mas reconquistou variados circuitos que lhe estabeleceram o estatuto de culto.

Parece uma introdução muito longa para chegarmos a este “Intruder,” mas é um background necessário porque todo ele se ouve neste disco de imensa consciência ambiental. É a partir da electrónica que cria os hinos, carregando-lhe na malícia para algumas faixas industriais mais pesadas, – não foi mesmo o Trent Reznor que fez a “The Chosen” e a “When You Fall”?! – minimizando noutras para as tornar mais ambientais, com darkwave ou trip hop que agradem a um fã de rock gótico. Aquele ocasional carregar numa guitarra para metalizar um pouco alguns dos temas, ou um regresso ao passado, à New Wave que viu nascer e explorar-lhe aquela costela mais dark – aquela que muitos não reconhecem na música inicial dos Tears for Fears. Até música oriental volta a ter o seu palco aqui em momentos. “Intruder” é um álbum longo, de não tão fácil digestão, com alguns temas que possam soar semelhantes e a requerer algumas insistentes audições repetidas. Mas vale a pena o exercício para ver um veterano, que carrega um rótulo tão ingrato como “one hit wonder” a conseguir ainda modernizar-se com mestria. E com um bom álbum que já ninguém lhe esperaria e muito menos lhe exigiria.

Músicas em destaque:

The Gift, Intruder, The Chosen

És capaz de gostar também de:

Nine Inch Nails, Killing Joke


sobre o autor

Christopher Monteiro

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