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Os GGGOLDDD alteraram a grafia do nome da banda, para nos facilitar no que diz respeito à procura internauta nesta era – mas continua a pronunciar-se “Gold,” não é preciso gaguejar – mas não alteraram o génio e profundidade da sua música tão singular. Mas o que não se pode dizer é que se tenham mantido igual. Já imensas mutações sofreram desde a psicadelia revivalista de “Interbellum” e chegam a “This Shame Should Not Be Mine” no seu mais negro estado.
Se já se sentia tanta emoção crua em “Why Aren’t You Laughing?” e no mergulho cada vez mais profundo no seio pessoal e no trauma da vocalista Milena Eva, “This Shame Should Not Be Mine” abre inteiramente o livro para uma experiência desconfortável, desconcertante e extremamente emocional. O título deixa-o claro e Eva também já expôs a sua experiência com abuso sexual e violação na adolescência, uma história que infelizmente muitas e muitos mais terão com que se identificar. Com um confinamento a testar a saúde mental de tanta gente, serviu de ponto de partida para Eva aprofundar ainda mais o negrume da música dos GGGOLDDD, num disco que por trás do seu aparente minimalismo, esconde uma obra tão inacessível.
Mas uma obra tremenda a todos os níveis. Também há louvores a dar a nível músical, com o tal tom minimalista enganador, dado o constante tom melancólico e soberano foco na versátil voz de Milena e uma sonoridade sempre difícil de rotular, com uma electrónica, que tanto dá para o lado mais gótico e calmo como para um mais forte e industrializado, a servir de constante, deixando entrar surpreendentes passagens de peso como os blastbeats e tremolos de “Like Magic” ou uns fortes riffs doom como em “Strawberry Supper.” Tudo torna “This Shame Should Not Be Mine” tão assombroso como devia ser, adequa o ambiente à sua mensagem que será sempre pertinente. Com uma embalagem musical a embelezar algo deste género, sem que realmente esconda aquela dor, que somos obrigados a partilhar, quer nos identifiquemos directamente com o tema ou não. E que haja a coragem de assinar um disco tão pessoal desta forma, como também já o fez Lingua Ignota por exemplo, e fazê-lo tão bem. Que seja um álbum de difícil digestão, é ainda mais difícil fazê-lo com esta mestria e é aí que entram os louvores ao génio de Milena Eva e dos seus GGGOLDDD. De facto, essa vergonha não devia ser dela, ou de qualquer outra vítima da mesma atrocidade, que esta experiência sirva para reforçar uma ideia que devia ser tão simples. Que dê lugar ao orgulho pela superação e pela capacidade de tranformar um monstro interno nesta obra-prima.
Invisible, Notes on How to Trust, This Shame Should Not Be Mine
Lingua Ignota, King Woman, Emma Ruth Rundle