Ghost

Impera
2021 | Loma Vista Recordings | Heavy metal, Hard rock

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Excessos. Dão cabo de muita coisa, nem sempre com razão. Se os Ghost já têm tantos dedos apontados a eles por isso mesmo, devemos lembrar que muitos já têm muito tempo, desde que cometeram tal sacrilégio como ter sucesso. Portanto, reconhece-se que haja um exagero na sua imagem extravagante e teatral, nos custos à volta de um acto que já encantou a aquecer palcos mais pequenos, mas não se justifica que seja isso um factor que vá manchar o novo “Impera.” O sucesso vem muito da sua bizarra acessibilidade e das malhas. E a fonte ainda não secou.

Nem sabemos dizer se o sentido para o arena rock tão regado de um rock pesado obscuro como de pop clássica está ainda mais apurado. Já faz um tempo que essa é a marca de Tobias Forge e (renovada) companhia. E o choque já devia ter passado há muito tempo, visto que deu a entender logo desde cedo o tipo de songwriter que era. Se o início de “Spillways” nos remonta tanto a uma improvável “(I Just) Died in Your Arms,” duvido que Tobias tome isso como um insulto. Se já não sabem bem se o hard rock que bebem mais é um à Blue Öyster Cult ou à Bon Jovi, duvido que ele também fizesse muito por vos tentar esclarecer dúvidas. Boa sorte só a tentar tirar estas canções da cabeça. Outra vez, como já tem vindo a ser tradição nos quatro discos anteriores, e no final, é dos factores que mais importa.

Quando realmente associamos sempre o “mais” aos Ghost, é natural que se levante a questão se será este mais acessível ainda, mais pop, recorrendo a palavrões. Sim e não. É um disco suficientemente eclético para ter as duas vertentes. Os refrães pegajosos, ninguém os tira dali. Temos aquela tal “Spillways,” “Darkness at the Heart of My Love” que se calhar é a balada que estava em falta no último dos Scorpions, ou uma “Watcher in the Sky” que remonte a uma versão pesadota dos Yes dos 80s, entre mais incursões no que se sinta como uma new wave dessa mesma década fundido com um hard rock de barba rija. O que pode surpreender é que também está aqui algum do seu material mais pesado de ultimamente. A entrada de “Kaisarion” traz um power metal que não esperaríamos e vem com Iron Maiden na bagagem também. Há riffs na frente a lembrar que sim, são uma banda pesada, – chamem-lhe metal só se quiserem, não precisam de refilar tanto – há aquele épico conclusivo “Respite on the Spitalfields” a vestir o fato de “A Monstrance Clock” deste conjunto e temos uma muito peculiar “Twenties,” a que mais pesca a Mercyful Fate desde os tempos de “Opus Eponymous.” É Ghost mesmo à Ghost, é isso que não dá para mudar e é o que definirá o valor de “Impera” para cada um. O cinismo, esse é muito difícil de manter, dada a rapidez com que nos arrancam um sorriso e nos deixam a cantarolar os novos hinos. Suficientemente bom para nos fazer aceitar facilmente que sim, os seus melhores discos já estarão feitos, mas recorrendo à repetição: a fonte ainda não secou.

Músicas em destaque:

Hunter’s Moon, Twenties, Respite of the Spitalfields

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Black Sabbath, King Diamond, The Beatles


sobre o autor

Christopher Monteiro

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