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Deu para umas risadas, a partida de que os Holocausto Canibal iam virar veganos em vida e conceito, que nos pregaram ali no 1 de Abril. Mais do que a ideia em si, só as reacções de alguns muito nervosos que viram ali alguma integridade em causa e devem ter ido a correr marcar um leitão reaccionário com os amigos para se deleitarem com muito molho e gordura. Era tudo a brincar mas até parece que não havia violência suficiente na indústria da carne e em rituais tradicionais para uma banda de grind se consolar. É que o conceito de “Crueza Ferina” era mesmo esse que diziam!
Não é a tal crítica, também não tem que ser propriamente uma ode, – talvez dependerá do que cada um queira que seja! – mas sim um fascínio. O fascínio por violência que colocou os Holocausto Canibal na frente da música extrema nacional. Algo a dar conteúdo àquela capa e não se ficar apenas pelo shock value porque sim. E uma coisa tão portuguesa para não termos que nos esforçar tanto em reclamá-los como nossos enquanto andam aí à conquista do velho continente e não só: a matança do porco. Grotesco e de pouca evolução, tal é a forma como se reflecte sobre os seus poucos avanços e formas ainda rupestres como tudo é feito. Aquele apego à tradição tão característico do meio rural, onde isto já foi a principal fonte de rendimento. Tão legítimo para um conceito violento para os Holocausto Canibal como qualquer outro dos seus discos anteriores. Até pode ter mesmo um efeito conversor no ouvinte, como falavam na supracitada piada. Mas se aqui se fala do nulo avanço da violenta tradição, tal não se aplica à música dos Holocausto Canibal, que continua a dar para a frente. É um monstro cada vez mais pesado e feio, no melhor dos sentidos e como isso ainda consiga ser possível.
Claro que não há aqui fórmula a mexer. Ou receita, se quiserem manter uma temática culinária. Isto é death metal e grind, fundidos à bruta, aquela marca típica da lendária banda que os coloca numa posição frontal da música extrema nacional, que só partilharão, por aí, com os Grog. Sem grandes rodeios, assim que é instalado o desconforto com o minuto e meio inicial de um porco a rugir, a porrada que se segue é directa e seguida. Talvez no seu estado mais veloz, continuam a não dispensar um bom groove bem grosso, mas em “Crueza Ferina” sente-se bem mais o assalto punk que podia ter o seu pico ali na “Aniquilação Suídea” ou na venenosa “Prenúncios da Vingança Cavicórnea,” mas afinal deixa que se realce no fecho com chave-de-ouro de “Sortilégio da Perversão,” talvez o mais diferente que esta malta tresloucada já nos tenha apresentado. E tudo isso com um factor catchy quase tão doentio como a dita matança de que a obra fala. Não têm alguma coisa a provar – ou a justificar um convidado de luxo como Bob Vigna, dos Immolation, em “Êxodo Mortuoso,” esse malhão – mas parece que o sentem. E, além de nos chocar, também nos deixam aquela sensação de que cada novo álbum é o seu melhor. E, depois de uma dose destas, se calhar nem é uma ideia assim tão descabida virar para uma saladinha por um bocado.
Êxodo Mortuoso, Prenúncios da Vingança Cavicórnea, Sortilégio da Perversão
Grog, Dementia 13, Haemorrhage