Host

IX
2023 | Nuclear Blast | Rock gótico, Darkwave

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Não há cá arrependimentos. Nem devia haver. Há ali uma fase dos Paradise Lost que não terá agradado a todos pela forma como se afastou da sua origem? Pois há, por brilhante que seja, pode ser um choque frontal para quem se apaixonou pela sua fórmula de origem. Vamos fazer de conta que isso nunca aconteceu? Não se justifica. Os Paradise Lost encontram-se em novo pique criativo, de balanço das vertentes da sua sonoridade gótica. Para o peso maior, Nick Holmes juntou-se aos Bloodbath e Greg Mackintosh dá seguimento aos Vallenfyre com os Stragoi. Para mostrar que ainda há amor pelo gótico antigo e vontade de o fazer, têm novo veículo para depósito e descarga de ideias: chama-se Host, como o sétimo álbum dos Paradise Lost que mais submergiu nessa vertente, e a estreia “IX” é fantástica.

A voz inconfundível de Nick Holmes leva-nos para território familiar e tudo dos Host podia ser realmente do “Host.” Mas é uma palete de muitas cores. São os próprios a dizer-nos que há um pouco de tudo, desde o synthpop ao arena rock. Como é, realmente, um tributo ao clássico, as referências estão bem à vista. As deliciosas boas-vindas das duas primeiras faixas, “Wretched Soul” e “Tomorrow’s Sky” já têm a sua disparidade. Mais rock e pós-punk na primeira, mais synthpop e new wave na segunda. Ambas podiam ser tocadas numa cave fumarenta cheia de góticos à espera ou a acabar de assistir aos Bella Morte ou aos Drab Majesty. Só para atirar algumas referências mais recentes, porque a adoração a Joy Division é evidente em ambas. E o nome da praxe tem que ser chamado também: imenso Depeche Mode, ali do “Black Celebration” e do “Music for the Masses,” por toda a parte, mais ainda em “A Troubled Mind” e “My Only Escape.”

Só isso já é uma atracção. Como se fosse um álbum-fantasma dos Paradise Lost, que podia ter sido lançado a seguir ao “Host” mas com o qual queriam ser mais cuidadosos, ao assinar com outro nome. Mas assim fica a parecer uma novelty, uma curiosidade, e é bem mais que isso. Também muito curioso é o facto de ser o primeiro projecto que junta Holmes e Mackintosh fora dos Paradise Lost. Portanto é uma máquina bem oleada, uma química bem treinada, uma escrita de canções exímia. Porque é isso que mais importa no final de “IX” destes surpreendentes Host. Grandes canções. De relevo apontar que são de rock gótico, darkwave, synthpop, pós-punk, electrónica, coldwave, até de AOR se for preciso. Mas só para sabermos a sua roupagem. Porque o que interessa é o desfilar de grandes melodias e grandes temas memoráveis a fazer-nos dar graças por esta dupla de músicos ser tão activa. Porque somos capazes de vir a ter mais disto.

Músicas em destaque:

Wretched Soul, Tomorrow’s Sky, My Only Escape

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Depeche Mode, Drab Majesty, aquela fase dos Paradise Lost


sobre o autor

Christopher Monteiro

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