Não mexer em fórmula vencedora é inteligente e há aqueles momentos em que se deve aclamar, se for bem feito. Já se a fórmula tinha como maior intenção blasfemar e revirar-nos as vísceras, então não se pode dizer bem o mesmo se não mexerem em nada e as nossas entranhas se mantiverem intactas. “Eight Headed Serpent” dos Impaled Nazarene é mais uma descarga furiosa, mas a deixar feridas que saram muito depressa.

Não mexe no impacto que os Impaled Nazarene têm na música extrema, esclareçamos já isso. A medonha resposta Finlandesa à onda Norueguesa a dizer “somos tão ou mais tolos que vocês,” inicialmente com um desdém infantil que era mais promocional que outra coisa. Com um black metal por vezes capaz de ser tão estapafúrdio e over-the-top que não conseguia não ser extraordinário e fonte de clássicos. A criatividade de Mika Luttinen também nunca estará em causa – o black metal industrial diabolicamente dançável dos Diabolos Rising não pode mais ser um tesouro por descobrir. E celebra-se qualquer regresso, sendo este “Eight Headed Serpent” o primeiro trabalho dos Impaled Nazarene em sete anos. E sim, está tudo doido por aqui, ainda bem. A introdução de “Goat of Mendes” é hilariante e depois é sempre a andar, sem desacelerar, com uma “Human Cesspool” a nem completar um minuto porque é assim mesmo, entre toda a berraria e riffs crust punk imediatos. Tudo aqui sabe bem. Pode é saber a pouco.

Desfrutamos da descarga veloz e da cuspideira do costume mas é possível que, no final de tudo, assim que limpemos o suor da testa, já não nos lembremos ou distingamos muito do que se passou. Aplaudimos a fusão de black metal com hardcore e crust punk, mergulhando no lodo que é o grindcore, mas não dá para não notar tudo repetitivo. A blasfémia continua tão bela como sempre, mas parece que sentimos mais veneno nos títulos das músicas do que nas músicas propriamente ditas. E no final da meia hora, que até foi bem passada, a querer mais somos capazes de lá ir buscar o “Ugra-Karma” ou o “Latex Cult” outra vez. Se calhar a culpa é nossa por estarmos mal habituados a esses e quase que deixamos passar o peso de um riffalhão como o de “Unholy Necromancy” a querer deixar-nos o cérebro em papa, mas foram eles que criaram esses também, logo têm alguma responsabilidade. E chamar “Eight Headed Serpent” a um disco que tem na capa apenas três cabeças não reptílicas, aí já é publicidade enganosa e aí já ficamos chateados!