Que pergunta tão frágil, essa do título, como quem se vulnerabiliza para nos questionar algo, com medo da mágoa. E vem de uma colaboração de malta tão barulhenta como os Intensive Care e os omnipresentes The Body? Querem ver que é uma versão suave de ambos, a versão insegura desses monstros? Logo o primeiro segundo de “Mistakes Have Been Made” é um guinho medonho vindo das infernais profundidades. Portanto, está tudo certo afinal.

Entre o cagaçal porque já o esperamos, especialmente dos mais regulares The Body, cada vez mais submissos à barulheira industrial, como um enorme tanque de ácido onde se mergulha aquilo que podemos assumir que sejam temas de metal, que voltamos a puxar para fora já todos corroidinhos. Portanto os Intensive Care são uma boa companhia para isso – também eles estão habituados a essas andanças sonoras. Uma estreia em conjunto, – os Intensive Care não fazem tantas colaborações, mas também já as têm, e já partilharam um EP com os Full of Hell, parentes aqui dos The Body – e talvez sejam os Intensive Care quem passem mais discretos. Isto podia ser caos criado só pelos The Body. O que temos é outra voz grunhida ou exclamada a acompanhar a habitual guinchadeira de Chip King, ao longo de temas medonhos de ambiente interplanetário, interdimensional ou sobrenatural.

Noise rítmico, batidas industriais não recomendáveis a quem só está habituado à vertente mais comercial disso, uns riffs disparados contra nós, muita berraria e… Bons sonhos, dirão eles. “Swallowed by the God” deve ser o tipo de coisa que se ouve a caminho do Inferno; “The Misunderstanding” é uma lição de noise; “At Death’s Door” tem passagens com ambientes mais minimalistas que se assemelharão à sensação de estar sozinho no meio do mato, rodeado apenas por muitos olhos; “The Riderless Mount” é um monstro com muitos braços, escamas e a cheirar a bílis, mas é um trip hop que passou por essa mutação nalgum laboratório; e nem sabemos muito bem dizer o que se passa em “Mandelbrot Anamnesis,” mas assusta. E, com isso tudo, ainda têm a lata de nos perguntar. “Was I Good Enough?” Sempre foram, minha boa gente, até bem mais do que enough. Já nos podem soltar ou é para uma segunda volta desta sessão de tortura nalgum casebre isolado e escuro?