Se tem que haver um trono para tudo o que seja movimento ou não, é debatível, assim como as sucessões no mesmo. Mas, nos quase vinte anos de percurso dos Irae, tem que se reconhecer a constante escalada ao topo de alguma coisa, sendo um nome cada vez mais imediato a ser lançado na enumeração dos mais importantes actos do tão rico panorama do black metal lusitano.

Mesmo sendo sempre assíduos nos lançamentos, “Lurking in the Depths” é ainda o quinta longa-duração e segue “Crimes Against Humanity” numa missão árdua, porém pouco importada, de provar que o black metal no seu estado mais cru tem bem menos limites que o que muitos pensam – e muitos dão a pensar. Um disco bem mais heterogéneo que o que se possa assumir à superfície e às primeiras audições, com toda a escola Darkthrone e Burzum bem estudada e orgulhosamente exibida, sabendo como balançar entre a mais fogosa agressividade e a mais gélida atmosfera. É para o segundo lado que mais pende, sem se deslindar do primeiro, em comparação ao disco anterior e a outras variadas facetas que o trevoso projecto de Vulturius apresenta sempre, nas subtilezas do que o black metal no seu estado mais puro permite.

Pouco a assinalar em relação à crueza sonora, essencial para a atmosfera florestal e enevoada que se justifica para além do “raw por ser raw” a que muitos encapuçados e pintados recorrem. Um destaque a dar ao uso de sintetizadores, tão frequentemente assinalado em tudo o que seja análise deste disco, que confirma que é por um caminho mais ambiental que andeja, sem cair em dark ambient ou dungeon synth. É ainda uma boa exibição do que bem se aprende, explora e personaliza nos manuais “Transilvanian Hunger,” “Filosofem” e até mesmo “Storm of the Light’s Bane,” que ainda há muita melodia por aqui, sem fazer disso um palavrão. Para cortar, a rudeza curta e grossa de “Calor, Fome e Doenças” e um senhor riff daqueles em “Ratazanas” a fazer abanar cabeças. Se há tronos, ou topos, ou rédeas, ou coisa que o valha… Os Irae estão na frente de alguma coisa no que diz respeito ao black metal nacional e, nesses mais destacáveis longa-durações, há dificuldade em encontrar falha de qualidade em algum.