Um Yin para um Yang. Ou algo para apaziguar. A bonança após a tempestade. O que quiserem. E já estávamos notificados. Jack White tinha dois presentes para nós neste ano de recuperação após uns tempos tão conturbados. E queria causar-nos sensações diferentes. Depois do caótico e excêntrico “Fear of the Dawn,” Jack deixa-nos descansar com o seu mais calmo e predominantemente acústico “Entering Heaven Alive.”

Jack White veste a casaca de cantautor para este disco, deixando o lado mais experimentalista descansar. Já era de esperar um conjunto de canções mais serenas, talvez mais pessoais, com um Jack mais acompanhado de guitarra acústica para prestar homenagem aos estilos mais tradicionais da música Americana, sejam os blues, a folk solitária ou o country. Tudo coisas que ele nunca deixa de lado, aqui fá-las mesmo chegar-se à frente e torna-se comparável a algumas certas passagens antigas dos White Stripes ou como quando produziu e participou num álbum da lendária cantora country Loretta Lynn.

Essa sua identidade acaba também por tornar “Entering Heaven Alive” mais um disco completamente diferente dos seus antecessores e até se torna injusto encará-lo como um mero acompanhamento, complemento ou apêndice de “Fear of the Dawn.” É a sua própria obra que também tem as suas próprias experiências e não é apenas um disco “mais despido,” esconde um amplo leque de diferentes influências que vão além dos seus habituais blues, com muito country, folk, jazz, funk e um imenso tributo a rock clássico. Como se os Beatles estivessem aqui a experimentar mais sonoridades que tenham deixado para trás no seu tempo – e não estão loucos se ouvem ali algo de “Stairway to Heaven” nas melodias de “A Tip from You to Me.” Deixa alguma electricidade mais à “Icky Thump” entrar em “I’ve Got You Surrounded (With My Love)” e traz o virtuosismo na faixa final, novo arranjo country/bluegrass de “Taking Me Back.” Melancólico, mesmo que não exclusivamente e apenas ilusoriamente uniforme. Pode sofrer um pouco com a enorme sombra deixada por “Fear of the Dawn” mas é mais um impecável trabalho de um dos maiores músicos do presente século. A ouvir com atenção e a revisitá-lo assim que o tempo encubra e arrefeça um pouquinho…