Julie Christmas

Ridiculous and Full of Blood
2024 | SIVIANA, RED CRK AB | Pós-metal, Pós-hardcore, Noise rock, Sludge metal, Industrial, Experimental

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O novo disco a solo mais aguardado, quer o soubessem ou não. O mais necessário também, que não haverá coisa mais bruta, crua e visceral que este “Ridiculous and Full of Blood” que traz uma nova magnífica e arrepiante performance vocal desta tresloucada que transpira criatividade chamada Julie Christmas. Que deixa saudades desde que ajudou os Cult of Luna a fazer barulho há já uns bons oito anos e cuja última proposta aterradora em nome próprio já leva catorze anos. Que seja bem-vinda, que a gente vai só ali esconder-se num sítio seguro para ela poder realmente descarregar os demónios todos e nós cá ficamos a assistir, estarrecidos e maravilhados.

Já antes de tudo isso que assinou com o seu nome, fez-se conhecida como uma campeã nestes circuitos da esquisitice pesada e ambiental, primeiro com os controversos Made Out of Babies e, a seguir, com os estrondosos Battle of Mice. Tudo coisas que deixam saudades. E que são boa referência para o que apresenta a solo, só que tornando-a ainda mais o foco. Dá para usar Battle of Mice como referência, mas sem a sujidade dos riffs e produção lamacenta que os aproximava do sludge, mesmo que Julie também não o deixe totalmente de lado. Tem na mesma riffs, e há aqui guitarras bem pesadas como a de “Thin Skin” e atmosfera a rodos, mas também anda mais à procura de canções, quão desconstruídas sejam na voz de Julie Christmas. E melodias, sim. Que a berraria desenfreada do refrão de “Supernatural” fica-nos presa no ouvido, ainda por cima.

Capaz de arrepiar com a sua oscilação entre um tom aparentemente doce – que é sempre mais assustador ainda – a partir do seu tom agudo e que rapidamente se vira para a berraria, que já na abertura “Not Enough,” ela passa-se ali de uma forma que nos faz questionar se é seguro ela andar à solta. É e deixem-na estar porque só saem maravilhas deste contido conjunto de canções – os Battle of Mice, por exemplo, estendiam-se muito mais – e com uma voz a lembrar uma Björk possuída por alguma coisa, já que a expressão “Björk mas mais esquisita” é uma falácia impronunciável. E também uma irreverência provocadora que nos faz pensar como seriam as coisas se a Tori Amos fosse um pouquinho mais louca – outra frase também de pronúncia muito difícil. Um acompanhamento musical de luxo, novamente nas mãos de Andrew Schneider, que tem no currículo, como músico ou produtor, apenas umas coisitas como Converge, Cave In, KEN Mode, Unsane, Pelican e até os nossos Process of Guilt. Tudo referências válidas para aqui. E ainda conta com Johannes Persson a devolver o favor, em “End of the World,” a malha mais Cult of Luna que aqui está, obviamente. Um pós-metal ou pós-hardcore ou pós-qualquer-coisa ruidoso, atmosférico, sintetizado e emocionalmente envolvente. Enfim, um pesadelo que nos causa imediato síndrome de Estocolmo, tal é a vontade de não sair dele. “Ridiculous and Full of Blood,” sim. Que isto está tão bom que até é ridículo.

Músicas em destaque:

Supernatural, Thin Skin, Silver Dollars

És capaz de gostar também de:

Battle of Mice, Made Out of Babies, Chelsea Wolfe


sobre o autor

Christopher Monteiro

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