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Pode não estar muito acima da superfície no que diz respeito ao reconhecimento, mas “Liturgy” tem que ser dos nomes mais controversos no espectro da música pesada e sem qualquer escandaleira ou esqueletos no armário: pura e simplesmente pela sua sonoridade excêntrica e desafiadora, assim como a postura filosófica e enigmática que sempre fez parte do conceito da banda. E fazem-no num território tão perigoso como o purista black metal. Os Liturgy, por quem não os chama génios, sempre foram vistos como um rosto representativo do pretensiosismo.
E não vai ser termo tão facilmente largado agora com “Origin of the Alimonies” que, apenas com um ano de intervalo para com o antecessor “H.A.Q.Q.”, não é apenas um disco qualquer, é uma ópera composta e montada por Hunter Hunt-Hendrix que tanto recorre realmente a um forte auxiliar sinfónico como ao minimalismo, como é o caso da introdução que se estende por mais do que cinco minutos e só na terceira faixa é que temos algo mais “a sério” a começar. Musicalmente, já deve haver aí suficiente da marca “Liturgy” para fazer muitos que quisessem ainda dar uma chance a este disco, desistir da ideia e agarrar-se a outra coisa qualquer menos “profunda.” Liricamente, este podia ser um disco muito pessoal pelas razões óbvias. Hunter assumiu-se como transexual em Maio deste ano e a sua transformação – retratada na capa – e transição podiam orientar a narrativa desta ópera. Mas se o faz, é novamente recorrendo ao simbolismo nada ortodoxo, que dificulte a identificação de alguém que atravesse algo semelhante a Hunter.
O álbum/a ópera parece fechar o capítulo do anterior “H.A.Q.Q.” sem abandonar as suas ideias filosóficas e religiosas e olhando a assuntos de sexualidade e saúde mental, apresentando o “Haelegen” como uma ideologia da própria Hunt-Hendrix. E avança com a narrativa de nascimento de vida e materialização de luz (OIOION) e escuridão (SIHEYMN) sem largar o complexo simbolismo em qualquer momento. Estamos em território familiar, termo usado com cuidado devido à familiaridade com que algo tão excêntrico como Liturgy permite. E a música mantém-se ao mesmo nível, atravessando um ruidoso mar de influências, para chegar do minimalismo à orquestração mais over-the-top, ornamentando sempre um black metal ríspido e outros momentos a oscilar entre pesado e melódico. Pelo meio muito noise e capacidade em misturar peso com um piano clássico e uma batida electrónica a desafiar limites de géneros musicais que caibam na mente de Hunter Hunt-Hendrix, que sempre foi uma escritora de música tudo menos usual. E aí também está a fragilidade de toda a profundidade e complexidade dos Liturgy: Hunter é complicada de acompanhar e realmente identificar para que se aprecie realmente as suas propostas. Ninguém lhe vai tirar o crédito pela ambição e extravagância – ainda para mais no black metal, cheio de fãs chatos – mas com um público difícil de se encontrar e discos tão difíceis de digerir, chegamos ao fim de “Origin of the Alimonies,” e de outro qualquer de Liturgy ainda sem saber onde está a linha do pretensiosismo e com vontade de devorar qualquer coisinha mais simples, só para descomprimir.
Lonely OIOION, SIHEYMN’s Lament, Apparition of the Eternal Church
… Nem ideia de uma base de comparação