Mayhem

Daemon
2019 | Century Media Records | Black metal

Partilha com os teus amigos

Daemon” é um disco que nos chega às mãos com antecipação e sem qualquer necessidade de introdução. É totalmente impossível haver tal distracção ao ponto de se estar no universo do metal extremo e não conhecer o nome Mayhem. Infelizmente, há vezes em que a música até deve ser a última coisa a vir à baila, mas a sua história, que ninguém seria capaz de inventar, é um marco e tão cheia de estrambolismos que dava um filme manhoso. E deu mesmo, mais manhoso ainda que o que devia.

Há uma particularidade na discografia dos Mayhem, além do largo espaçamento entre lançamentos – este é apenas o sexto longa-duração numa carreira de mais de três décadas – e é a quantidade de registos subvalorizados que nela existem. Não referindo a tal sobreposição da sua história à música, mesmo fãs ouvintes da polémica entidade Norueguesa podem deixar escapar algumas coisas. Os seus clássicos são tão clássicos que até ficam alguns esquecidos. Sim, o “Deathcrush” definiu a podridão e os limites do perceptível numa gravação de áudio e “Dom Mysteriis Dom Sathanas” é obra de panteão. Mas outros registos como “Grand Declaration of War” e o seu choque inicial – numa banda com homicídio e suicídio na sua história, a maneira mais eficaz de chocar fãs é utilizando electrónica – viraram o black metal do avesso e tornou-se uma obra-prima vanguardista ainda inimitável, e “Ordo ad Chao” não recebe suficiente crédito pela força visceral que emana a cada riff e a cada gole que bebe do death metal.

Felizmente “Esoteric Warfare” até já conseguiu algum reconhecimento pelas suas variadas injecções, mas não nos preparou para o que viria a ser este novo registo cinco anos depois. “Daemon” é um título muito simples e a sua abordagem directa também é aparentemente simples, até analisarmos melhor, após recuperar da dose. A abordagem é muito introspectiva e, para regozijo de muito bom fã, é ao “Dom Mysterii” que se podem resgatar as mais evidentes comparações. Justifica-se, andaram na estrada a tocá-lo na íntegra e absorveram a sua influência: já não são aqueles miúdos loucos a brincar com fogo e mutilações, mas são graúdos que passaram por isso mesmo, mais experientes, que sabem como arrebatar com um riff gelado, as vocalizações desuniformes de Attila e negras canções memoráveis que não vão buscar ideias ao black metal do berço, mas sim reclamam a criação delas. Mais espirituais e conceptuais do que meramente blasfémicos e atrás do “shock value”, mais maduros que aquela inocência que os fez causar tantos estragos. Mais experientes. Se “Dom Mysteriis Dom Sathanas” cresceu para se tornar um adulto, marcado e cicatrizado e a impor respeito, esse é “Daemon.” E se calhar com essa tal falsa simplicidade, os Mayhem apresentam-nos o seu disco mais surpreendente.

Músicas em destaque:

Bad Blood, Worthless Abominations Destroyed, Of Worms and Ruins

És capaz de gostar também de:

Darkthrone, Emperor, 1349


sobre o autor

Christopher Monteiro

Partilha com os teus amigos